Cultura: «Simples evocação do nome de Deus poderá ser a luz que se acende sobre nós» – Valter Hugo Mãe (c/vídeo)

Autor de «Deus na Escuridão» fala da busca pela espiritualidade e da necessidade de «alimentar» a maravilha

Lisboa, 30 mar 2024 (Ecclesia) – O escritor português Valter Hugo Mãe disse à Agência ECCLESIA que o seu novo romance, ‘Deus na Escuridão’, representa a sua busca pela espiritualidade e a necessidade de “alimentar” a maravilha.

“A simples evocação do nome de Deus poderá ser a luz que se acende sobre nós e que mapeia no coração de Deus a nossa presença e o lugar onde afinal estamos”, referiu o autor, em entrevista que vai ser emitida este domingo, dia de Páscoa.

“Cada vez mais pressinto que estamos, de facto, acompanhados por Ele”, acrescenta.

‘Deus na Escuridão’ (Porto Editora) tem como cenário a ilha da Madeira, inspirado em mulheres que o autor encontrou, e as suas personagens centrais são a dois irmãos, Felicíssimo e Pouquinho.

“As personagens mais interessantes são sempre as que custam mais a falar, as que confessam mais lentamente, que até acham que as suas histórias não têm dignidade para ser contadas. E, normalmente é onde está aquilo que me comove. Os fortes não precisam da minha voz”, defende.

Valter Hugo Mãe indica que o título do seu novo livro remete para uma ideia de “paciência” e escondimento, mais do que uma ameaça na referência à “escuridão”.

“Tem mais que ver com o que se espera de nós, gente, do que propriamente com o que condena Deus”, precisa.

Tenho a sensação de que Deus, enquanto indivíduo, digamos assim, será alguém aflito por nós. Um indivíduo que nos deu ignição, que nos deu começo, mas que nos permite o livre arbítrio, ao ponto de depois padecer desse gesto amoroso que é dar-nos um certo poder também”.

O autor destaca o poder de “fazer escolhas” e recorre à imagem da compaixão materna, que acompanha sempre seus filhos.

“Sinto muito que Deus haverá de ser como as mães, que veem os filhos partir e não fazem outra coisa se não esperar que eles possam regressar”, realça.

O escritor português destaca que as mulheres vêm de “uma longa história de subjugação, de subalternização”.

“Parece-me que o poder de que foram muitas vezes capazes é o poder da ternura”, aponta.

Valter Hugo Mãe assume a convicção de que o “milagre abunda” na vida.

“Ao longo da minha vida, com mais afastamentos e mais aproximações, fui sempre incapaz de perder a noção do milagre”, confessa.

Às vezes até digo que não teremos direito de acreditar em Deus se não acreditarmos primeiro uns nos outros e por isso eu acho que esta é a nossa função, é o nosso sentido”.

O autor fala da necessidade de “alimentar” a maravilha e “levar” essa mesma maravilha até Deus, lamentando ainda que se viva, no país, “uma cidadania muito demissionária”, particularmente na relação com os mais velhos.

“Eu sinto necessidade de não abandonar quem me construiu, digamos assim, quem me possibilitou tudo”, conclui.

A entrevista com Valter Hugo Mãe vai ser emitida este domingo, pelas 17h30, no Programa ‘70×7’, pelas 17h30.

OC

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