Covid-19: «Ministro» das Finanças do Vaticano admite impacto negativo nas receitas

Padre Juan Antonio Guerrero destaca esforço de transparência promovido pelo Papa e afasta cenário de «default»

Cidade do Vaticano, 14 mai 2020 (Ecclesia) – O prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé admitiu o impacto negativo da pandemia de Covid-19 no equilíbrio financeiro do Vaticano, mas afasta um cenário de insolvência (default).

“Fizemos algumas projeções, algumas estimativas. As mais otimistas calculam uma queda de receitas de cerca de 25%. As mais pessimistas, 45%”, apontou, em entrevista ao portal ‘Vatican News’.

O padre Juan Antonio Guerrero, destaca os esforços promovidos pelo Papa Francisco para promover uma maior transparência financeira da Santa Sé.

“Nós não somos uma empresa, o nosso objetivo não é ter lucro. Cada Dicastério, cada entidade, presta um serviço. E todos os serviços têm custos. O nosso compromisso deve ser um compromisso de máxima sobriedade e clareza”, assinala o religioso jesuíta.

O “ministro” das Finanças do Vaticano diz que o seu trabalho é equilibrar “números” com a “missão da Santa Sé”, considerando que existem exageros sobre os valores reais que são movimentados no Estado e nos organismos centrais de governo da Igreja Católica.

“São menores do que uma universidade americana média, por exemplo. E também esta é uma verdade frequentemente ignorada”, explicou.

Segundo o padre Juan Antonio Guerrero entre 2016 e 2020, as receitas foram sempre na ordem dos 270 milhões de euros e as despesas, em média, de 320 milhões.

“As receitas provêm de contribuições e donativos, rendas de imóveis e, em menor medida, da gestão financeira e das atividades das entidades”, relata.

Outra fonte de financiamento é a receita dos Museus do Vaticano, atualmente encerrados.

Quanto a recentes polémicas sobre o uso do Óbolo de São Pedro, provenientes de donativos de fiéis e instituições católicas, o prefeito da Secretaria para a Economia destaca que este fundo solidário “financia a missão da Santa Sé, que inclui a caridade do Papa, e que não tem receitas suficientes”.

O religioso admite a necessidade de “explicar melhor” ao público o que está por trás dos números.

“Por exemplo: comunicar o que o Papa faz em 36 línguas, através da rádio, da televisão, da web, das redes sociais, de um jornal, de uma tipografia, de uma editora, da sala de imprensa é um trabalho que não tem igual no mundo. Tem um custo, certamente. Tem também receitas. Absorve cerca de 15% do orçamento. Mais de 500 pessoas trabalham lá”, assinalou.

Outros gastos relacionam-se com o trabalho das nunciaturas apostólicas (embaixadas da Santa Sé), apoio às Igrejas Orientais e dioceses mais pobres, preservação do património e pagamento de impostos ao Estado italiano (cerca de 6% do orçamento, ou seja, 17 milhões de euros).

“O Vaticano não está em perigo de ‘default’. Isso não significa que não enfrentemos a crise pelo que ela é. Temos certamente, no futuro, anos difíceis. A Igreja realiza a sua missão com a ajuda das ofertas dos fiéis, mas não sabemos quanto as pessoas vão oferecer; por esta razão, temos de ser sóbrios, rigorosos”, prosseguiu.

Após uma reunião com os responsáveis pelos vários organismos da Santa Sé, foi pedido uma redução de despesas, “salvaguardando, ao mesmo tempo, a essencialidade da sua missão”, além de anunciar uma centralização dos investimentos.

“Devemos não só evitar investimentos pouco éticos, mas também promover investimentos ligados a uma visão diferente da economia, à ecologia integral, à sustentabilidade” precisou o padre Juan Antonio Guerrero.

OC

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