Covid-19: Cáritas Portuguesa teme agravamento da crise e alerta para risco de endividamento das famílias

Eugénio Fonseca diz que é tempo de ajudar, destacando aumento dos pedidos para a alimentação

Foto: Joana Bougard/RR

Lisboa, 17 jul 2020 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Portuguesa disse à ECCLESIA e Renascença que teme um agravamento da crise provocada pela pandemia, confirmando um aumento de 40% nos pedidos de ajuda à instituição, em particular no campo da alimentação.

“A preocupação que temos, pelos indicadores que são públicos, é que as dificuldades poderão vir a ser muito maiores a partir do último trimestre deste ano, com um agravamento maior no primeiro trimestre (de 2021)”, indica Eugénio Fonseca, na entrevista semanal conjunta que é emitida e publicada hoje.

Segundo o responsável, os pedidos surgem por causa da “perda do trabalho e da baixa significativa que as pessoas tiveram nos rendimentos”.

O presidente da Cáritas Portuguesa diz que a crise “é transversal a todo o país”, referindo que só em maio e junho a organização católica distribuiu 132 toneladas de alimentos.

Eugénio Fonseca alerta para a necessidade de evitar o endividamento das famílias, “uma espiral que leva muito tempo a recuperar”.

“O Governo, logo no início, criou medidas que são muito importantes, como a de ninguém ser despejado da sua casa, ninguém ter cortes de eletricidade, de gás ou de água, mas isto vai durar até dezembro, e nós estamos a ajudar as pessoas a perceberem que, ao recorrerem a estas medidas, estão a contrair dívida”, precisou.

Outra preocupação está ligada ao ensino à distância, com os aumentos dos gastos com a internet, para algumas famílias, e um potencial aumento das desigualdades.

“A Educação é um dos alicerces fundamentais para a autonomia das pessoas, no acesso às oportunidades”, observa Eugénio Fonseca.

Para este responsável, é necessária uma resposta no campo da saúde mental, num momento em que se “instalou o medo relativamente ao futuro”.

A Cáritas Portuguesa lançou esta terça-feira um apelo público de apoio, no qual defendeu uma “mobilização nacional” para reforçar a resposta solidária à crise provocada pela pandemia.

“Os que podem ainda, que não fiquem indiferentes”, pede Eugénio Fonseca, falando na “amargura” de quem sempre ajudou e agora se vê obrigado a pedir auxílio.

O presidente da Cáritas diz que a Economia portuguesa “nada tem de sustentável” e fala em “medidas avulsas” na resposta à crise, considerando que a “a classe política tem esta oportunidade para demonstrar a sua credibilidade”.

“O verdadeiro político é aquele que pensa no bem comum”, acrescenta.

Eugénio Fonseca apela ainda à intervenção solidária de Bruxelas, sustentando que “é hora de a União Europeia mostrar que é mesmo uma União”.

Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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