Covid-19: Capelão do Hospital de Viana do Castelo atento à «pandemia de saúde mental e espiritual» acentuadas pela «pandemia vírica»

Padre Fábio Carvalho revela que está «preocupado» com os «lutos mal resolvidos»

Foto Notícias de Viana, Padre Fábio Carvalho

Viana do Castelo, 05 fev 2021 (Ecclesia) – O capelão do Hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, afirmou que os “lutos mal resolvidos” por causa da pandemia Covid-19 é uma das situações que o “tem preocupado muito” e tem feito “muito atendimento e acompanhamento espiritual”.

“O facto de as pessoas estarem impedidas de verem os seus familiares, de os visitar, muitas vezes de se aproximar dos próprios defuntos, quer dentro, quer depois já fora do hospital tem provocado um aumento de lutos mal resolvidos e é uma das coisas que me tem preocupado muito”, disse o padre Fábio Carvalho em declarações Agência ECCLESIA.

O capelão do Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa na Unidade Local de Saúde do Alto Minho – Hospital de Viana do Castelo, exemplifica que os sacerdotes nas comunidades “estão confinados, estão muito mais impossibilitados de contactar com as pessoas”, e de celebrar funerais “com a dignidade que deve ter e com a componente pedagógica e de integração da realidade”.

“É uma gota de água no oceano que está diante de nós mas é importante que se faça e tenho realmente receio, nesta área da morte e do luto, nesta fase concreta”, observa.

As pessoas “não têm tempo nem de se despedir daquele que morre, nem de celebrar um funeral condigno”, e lembra um caso, de uma pessoa que acompanha, onde “deram meia hora de velório” da mãe, “uma celebração de 15 minutos e foi sepultada”, o que para “efeitos de integração da morte da mãe, integração do processo do luto e despedida é terrível”.

“Todas estas questões estão a trazer até nós uma onda de pessoas num sofrimento existencial, espiritual muito grande; Há uma pandemia vírica mas já está a haver uma pandemia de saúde mental e espiritual, ou da sua ausência, neste caso”, desenvolveu o padre Fábio Carvalho.

O capelão do Hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, explica há um “crescendo de coordenação entre todos” na unidade de saúde e não está ali “a mais” mas é “um no meio dos outros”, com uma função muito específica que cada vez mais é “explorada e valorizada”.

“O acompanhamento espiritual no luto perpassa, faz parte de um grupo transdisciplinar, e o assistente espiritual, neste caso o sacerdote, tem um papel importantíssimo que tem vindo a ser reconhecido pelos próprios profissionais de saúde”, acrescenta.

No próximo dia 11 de fevereiro, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial do Doente e o Papa Francisco escreveu a mensagem “«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8)

“A mensagem que o Papa deixa é a de sempre, que é belíssima: aprendermos a olhar o outro como um irmão porque nascido desta imagem de Deus que lhe concede um substrato de dignidade, de pessoalidade, e, portanto, digno de todo o nosso cuidado que é o que falta muito no nosso tempo”, comentou o padre Fábio Carvalho.

Neste contexto, recorda a recente aprovação do diploma que legaliza a prática da eutanásia pelo Parlamento português, a 28 de janeiro, e “muitas destas legislações”, a alerta que em vez de se olhar “para o outro como um irmão” é olhado “como um alvo a abater, como um intruso”.

“Como alguém que não possui uma dignidade intrínseca e pode ser transformado num objeto. Às vezes, deixamos que o outro se transforme a si mesmo num objeto, como descargo da nossa inconsciência da responsabilidade para com ele”, concluiu o capelão do Hospital de Santa Luzia.

CB/PR

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