Coragem para ir contra a corrente

Bento XVI deixa conselhos para os jovens dos nossos dias Centenas de milhares de jovens reuniram-se este fim-de-semana em volta de Bento XVI, que lhes pediu a “coragem da humildade”, de “andar em contra-corrente”, seguindo a via da humildade, e não a do orgulho, da violência e da prepotência. “Caminhai contra-corrente: não escuteis as vozes interesseiras e insinuantes que hoje, de muitas partes, propagandeiam modelos de vida caracterizados pela arrogância e pela violência, pela prepotência e pelo sucesso a qualquer preço, pelo aparecer e pelo ter, em detrimento do ser”, apontou. Um ambiente de festa tomou conta da localidade italiana de Loreto. Na homilia da Missa desta manhã, o Papa sublinhou que o próprio santuário italiano fala da humildade proclamada no Evangelho do dia. “A Santa Casa de Nazaré – observou – é o santuário da humildade: a humildade de Deus que se fez carne e a humildade de Maria que o acolheu no seu seio; a humildade do Criador e a humildade da criatura. Foi deste encontro de humildades que nasceu Jesus, Filho de Deus e Filho do homem”. A humildade não é só “uma grande virtude humana”. Ela “representa, em primeiro lugar, o modo de agir do próprio Deus. A via escolhida por Cristo, o Mediador da Nova Aliança, o qual, aparecendo em forma humana, se abaixou a si mesmo fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz”. Tudo isto, advertiu Bento XVI, constitui para todos, começando pelos jovens, “uma mensagem importante e mais do que nunca actual”. “Não tenhais medo, caros amigos, de preferir as vias alternativas indicadas pelo amor verdadeiro: um estilo de vida sóbrio e solidário, relações afectivas sinceras e puras; um empenho honesto no estudo e no trabalho; profundo interesse pelo bem comum”, disse. Neste contexto, o Papa evocou o exemplo dos Santos, começando por Francisco e Catarina de Sena, padroeiros da Itália, mas também tantos “esplêndidos jovens”, como Gemma Galgani, Gabriel de Nossa Senhora das Dores, Luís Gonzaga, Domingos Sávio, Maria Goretti, Piergiorgio Frassati, Alberto Marvelli. Bento XVI convidou os jovens congregados em Loreto a seguirem “a humildade que o Senhor nos ensinou e que os santos testemunharam, cada um segundo a originalidade da sua vocação pessoal”. “A nossa fé não propõe um conjunto de proibições morais, mas sim um caminho jubiloso à luz do sim de Deus”, afirmou o Papa. De entre “os desafios” a enfrentar para seguir este caminho, o Papa recordou antes de mais o desafio de “seguir Cristo até ao fim, sem reservas nem compromissos. E seguir Cristo significa sentir-se parte viva do seu corpo que é a Igreja. Uma pessoa não se pode dizer discípulo de Jesus se não seguir a sua Igreja”. Antes de concluir a homilia da Missa celebrada na esplanada de Montorso, nos arredores de Loreto, Bento XVI referiu-se ainda com apreço à recente iniciativa da Igreja italiana de dedicar uma Jornada anual, a partir do próximo dia de Setembro, para a salvaguarda da natureza criada. “Às novas gerações é confiado o futuro do planeta, onde são já evidentes os sinais de um desenvolvimento que nem sempre soube tutelar os delicados equilíbrios da natureza. Antes que seja tarde demais, há que adoptar opções corajosas, que saibam criar de novo uma forte aliança ente o homem e a terra”, pediu. Confiar em Deus No Sábado, aquando do início de Bento XVI com os jovens da Itália e do resto da Europa, ficou um convite a não desanimar perante as dificuldades. “Nada é impossível para quem confia em Deus”, assegurou. Um ano antes da Jornada Mundial da Juventude, na Austrália, o Papa viu junto de si cerca de 400 mil jovens de toda a Itália, para além de 800 jovens delegados que procedem de lugares como a Dinamarca, Grã-Bretanha, Letónia, Estónia, Argélia, Egipto, Tunísia, Jordânia, Autoridade Palestiniana, Israel e Turquia. Da Ucrânia chegaram representantes de rito latino e greco-católicos, enquanto a delegação líbia é formada por um egípcio, três iraquianos e dois filipinos. As delegações mais numerosas são a polaca (com aproximadamente cem jovens, em boa parte de Cracóvia), seguida da húngara, da francesa, da espanhola, da croata, da grega, da russa, da portuguesa e da eslovena. Cada uma dessas delegações está formada por cerca de 25 jovens. À noite, durante cerca de três horas, Bento XVI conversou com os jovens e respondeu às suas questões. Nesta ocasião, disse que “aos olhos de Deus cada um de vós é importante. Sois importantes para as vossa famílias, para os vossos amigos, para os vossos educadores, para o vosso país, para o mundo inteiro, para a Igreja, para Jesus Cristo”. “Nenhuma vida é sem importância e sem sentido; pelo contrário, senti-vos todos verdadeiramente importantes, protagonistas, porque estais no centro do amor de Deus”, acrescentou. Perante as dificuldades que os jovens encontram nos dias de hoje, o Papa considera que “cada jovem deve descobrir o seu caminho com Cristo, de forma a realizar o seu projecto pessoal”. Seguir em frente, quando tudo é tão burocrático e depende dos poderes económicos “é difícil, mas a família é o encontro das gerações e aqui encontram a coragem para caminhar. Devemos dar-lhe esse espaço”. “Devemos formar centros de esperança, justiça e solidariedade que sejam testemunhos para a sociedade moderna. Contra o desespero devemos colaborar solidariamente para os homens possam viver. O mundo em que vivemos deve testemunhar o empenho da juventude. Não basta a nossa força, mas conduzidos pela nossa fé e com a comunhão com Maria e Cristo fazemos algo de essencial”. Uma jovem diz que nem sempre é fácil falar de Deus na sociedade de hoje e com os amigos. “A beleza da criação é uma das formas onde podemos perceber a presença do Senhor e como Ele é bom”, respondeu o Papa. “Devemos ter o coração aberto pela presença de Deus. A celebração litúrgica e o diálogo aberto com Cristo são momento de força na fé e onde Deus se revela”, prosseguiu. Uma outra pergunta dirigida ao Papa esteve centrada na insegurança e no medo que caracterizam de maneira diferente a existência de muitos. Bento XVI recordou antes de mais que insegurança e medo se enfrentam e superam , não sozinhos mas em companhia: em companhia dos pais, e dos educadores, do grupo de amigos com os quais partilham o caminho de fé, sobretudo em companhia da Comunidade dos crentes, da Igreja. “Em Cristo – salientou depois o Papa dirigindo-se aos jovens – podeis encontrar a resposta às perguntas mais íntimas do coração, porque Ele e somente Ele é capaz de vos tornar completamente livres e capazes de amar”. No discurso que mais tarde dirigiu aos jovens, Bento XVI recordou que se cada um deles permanece unido a Cristo poderá realizar coisas grandes. “É por isso – salientou – que não deveis ter medo de sonhar, de olhos abertos, grandes projectos de bem e não deveis deixar-vos desencorajar pelas dificuldades. Nada é impossível para quem confia em Deus e a Ele se entrega”. O sacerdote que recentemente foi sequestrado nas Filipinas, Pe. Giancarlo Bossi, convidado a estar presente no encontro, agradeceu a todos a sua presença e pediu “fidelidade a Cristo, à sua Igreja, à nossa vocação de missionários”. (com Rádio Vaticano)

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