«Conversas do Silêncio»: «Agora olhamos para a morte todos os dias» – Filipa Miranda (c/vídeo)

Psicóloga da Ilha Terceira, nos Açores, refere as perdas em tempo de pandemia e «readaptação» neste ano

Lisboa, 18 nov 2020 (Ecclesia) – Filipa Miranda, psicóloga e fundadora do grupo de apoio ao luto “Renascer”, na ilha Terceira, Diocese de Angra, refere que a pandemia veio trazer um olhar diário para a morte, causou muitas perdas e o “ano teve de ser readaptado”.

“Olhávamos a morte e o luto de forma ocasional, quando alguém adoecia ou porque houve um acidente, mas a pandemia veio mostrar todos os dias que a morte está lá, recebemos notificações através da imprensa e da redes sociais de quantos casos positivos existem e o número de mortes…Se antes nós tínhamos noção da morte de forma ocasional agora olhamos para a morte todos os dias, esta é talvez a maior diferença que a pandemia trouxe”, diz à Agência ECCLESIA.

A psicóloga sublinha que esta realidade “traz ansiedade e medo”, suscita as pessoas a não quererem sair de casa e defende haver “muitos lutos por perdas de expetativas”.

“Este ano teve de ser readaptado para todos e isto é uma perda, em altura de confinamento foi a perda de liberdade, deixámos a vida de contacto, outra perda, agora um simples café com os amigos pode ser perigoso e pode confrontar com a morte”, afirma.

Filipa Miranda fundou o grupo de apoio ao luto “Renascer”, em 2013, na ilha Terceira, Diocese de Angra, e esclarece que são vários os lutos que precisam de acompanhamento.

Vários tipos de luto que tivemos de trabalhar e intervir, e tem de haver sensibilização para perceber que existem outros tipos de luto e, ao longo do tempo, trabalhámos com pessoas que percebem que uma separação, divórcio, a morte de um feto, também é um luto”, considera.

A entrevistada destaca ainda que as pessoas enlutadas, “sejam jovens ou de idade mais avançada” querem, muitas vezes, “tirar a dor de qualquer maneira” mas tudo se trata de um processo.

“Não é algo que se faça em um ou dois dias e retiramos a dor mas um processo que, no final, vale a pena, utilizamos teorias da psicologia, e esperamos que consigam fazer o luto saudável e se adaptem à perda, porque fala-se muito “vais ultrapassar isso”, ninguém ultrapassa, adaptamo-nos com a ausência do que foi perdido”, esclarece.

No mês de novembro a Agência ECCLESIA apresenta as ‘Conversas do Silêncio’, publicadas online pelas 17h00 e emitidas no programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública, pelas 22h45, de segunda a sexta-feira.

SN

 

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