«Conversas Além-fronteiras»: Dehonianos querem criar infraestruturas em Moçambique para evitar abandono escolar (c/vídeo)

20 anos depois, o padre Luciano Vieira regressa à província da Zambézia, local onde se sente em casa

Gurué, Moçambique, 01 out 2020 (Ecclesia) – O padre Luciano Vieira, sacerdote do Sagrado Coração de Jesus, está desde o início do ano em Moçambique, numa missão da província dos Dehonianos apostada em criar infra-estruturas educacionais na cidade de Gurué, na Zambézia.

“O que vamos tentar fazer é reparar escolas que existem que não estão em condições. Os bancos onde as crianças se sentam são paralelos feitos com tijolos, escrevem no chão para poder tomar notas; alguns já têm cadernos outros não, embora os livros sejam obrigatórios e gratuitos para todos, na verdade o que vemos e que não têm acesso aos livros e acabam por ter uma presença na escola mas não têm mais do que isso”, explica à Agência ECCLESIA.

As crianças e os jovens frequentam o ensino obrigatório até ao 9.º ano, mas encontram muitos constrangimentos no seu percurso escolar.

“As salas estão pensadas para 45 alunos – parece muita gente quando comparada com a realidade portuguesa, mas aqui há turmas de 60, 70 ou 80 crianças. Em alguns casos, na escola primária chegam a estar na mesma sala 90 alunos. As dificuldades para os professores e crianças são muito grandes e acabam por desistir com facilidade”, lamenta.

À sobrelotação acresce a falta de condições higiénicas, com falta de água e saneamento, uma situação que impacta mais as “meninas”.

“Segundo dados que temos disponíveis cerca de 76% das raparigas chega à 4ª classe e sai da escola, porque entram na fase da puberdade e algumas são já convidadas a casar. O nosso objetivo é fazer com que as crianças possam ir à escola, permaneçam e cheguem ao fim, sentindo que valeu a pena estar na escola, porque nos dá outro futuro e esperança para viver a vida”, explica.

O padre Luciano Vieira está em Moçambique desde janeiro, depois de ter sido responsável pela paróquia de Carnaxide, no patriarcado de Lisboa, tratando-se de um regresso a África com 20 anos de diferença.

“Tornou-se fácil chegar porque, na verdade, estava em casa. Aqui sinto-me em casa e estou verdadeiramente em casa. Sai há 20 anos e a grande diferença está no nível de ensino obrigatório nas escolas profissionais”, lamenta.

Em janeiro, o padre dehoniano encontrou “as mesmas pessoas, a mesma hospitalidade e sorriso, a mesma alegria”.

O padre reconhece outra mudança na atitude de assumir o país: “«Aqui já somos donos», é uma expressão que se ouve muito por aqui – isso revela que aos poucos está a nascer e a crescer cada vez mais a ideia de que é um país, tem autonomia e tem de crescer”.

Mas, a par de uma maior consciencialização, o padre Luciano Vieira nota as dificuldades de uma população que não tem “água, luz” e onde muitos não sabem “o é uma botija de gás”.

O sacerdote do sagrado Coração de Jesus convida à missão, relembrando as palavras do Papa Francisco, que “apela à saída”.

“Deixem passar a pandemia mas enquanto ela dura preparem-se bem; ponham as malas e venham a caminho porque vale a pena ser missionário e anunciar o Evangelho, dando a conhecer Jesus pelo mundo e Moçambique é uma boa opção para dar a conhecer Jesus Cristo”, finaliza.

No mês de outubro missionário, assim estipulado pela Igreja católica, a Agência ECCLESIA apresenta as «Conversas Além-fronteiras», que procuram testemunhar a missão desenvolvida em diferentes pontos do mundo; serão transmitidas e publicadas online, às 17h00, e no programa Ecclesia, na rádio Antena 1, pelas 22h45.

SN/LS

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