«Conversas aGOSTO»: O amor aos livros do padre Adelino Ascenso (c/vídeo)

«Quando lemos um livro, entramos nessa própria narrativa, tornamo-nos íntimos com o autor e descobrimos alguns pontos comuns, algumas experiências comuns e, eu, o que sentia em Gorki, era essa rebeldia»

Lisboa, 04 ago 2020 (Ecclesia) – O padre Adelino Ascenso, superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova, afirma que os livros foram seus companheiros de vida, e que o escritor russo Máximo Gorki lhe abriu portas para procurar “experiências” e “encontros”.

“Gorki abriu-me as portas da experiência, da necessidade da experiência concreta. A necessidade do contacto com as pessoas, a necessidade de ir ao encontro do desconhecido, a necessidade de me alimentar dos encontros com o outro porque nós somos alimento uns para os outros”, explica à Agência ECCLESIA o sacerdote, com 66 anos de idade.

O escritor russo assinou uma trilogia, «As minhas Universidades», onde expõe as experiências pelas quais passou, muito diferentes do crescimento académico que o mundo universitário permite.

O padre Adelino Ascenso recorda que quando era novo tinha o desejo de passar um tempo da sua vida num hospital psiquiátrico para entender o que significava viver em tal lugar e entender o mundo de quem lá morava.

“Daí sentir-me particularmente impressionado por «As minhas Universidades». Quando lemos um livro, entramos nessa própria narrativa, tornamo-nos íntimos com o autor e descobrimos alguns pontos comuns, algumas experiências comuns e, eu, o que sentia em Gorki, era essa rebeldia, mesmo no sentido político, e a necessidade da experiência concreta, do encontro concreto com o outro. Foi por isso que essa trilogia me fascinou tanto, que depois, naturalmente, foi sendo alicerçado, continuando nos russos, por Dostoievski e Tolstoi”, assume.

Os livros, diz, foram também eles responsáveis por encontros que teve na vida e aqui, se confirma o termo japonês «Ichi-go-ichi-e».

“Os livros ajudaram-me a concentrar-me mais no momento concreto que vivia, por exemplo, o encontro com uma pessoa, valorizar isso ao máximo. Costumava pensar que nós somos como limões, devemos ser espremidos: se formos espremidos temos muito sumo para dar, caso contrário secamos”, explica.

Os livros foram companheiros da vida do missionário, no seu crescimento, junto à fonte de água fresca na sua aldeia em Leiria: “Foi aí que comecei a ter este amor pelos livros”.

“Junto a essa fonte de água fresca que já não existe. É pena porque é das fontes que quando agora me lembro dela, quase sinto o sabor da água fresca. Naturalmente a água é insípida, inodora, incolor, mas ali a água tinha um sabor especial, vinha do pinhal”, recorda.

Quando aos 13 anos vai viver para Lisboa não tem rendimentos que lhe permitam adquirir a “biblioteca” que gostaria, e por isso lembra as “carrinhas da Gulbenkian”, onde se “abastecia”.

“Eu vivia junto à Praça do Chile e havia uma carrinha que parava no jardim Constantino e recordo-me que era principalmente onde me abastecia de livros. Não havia dinheiro para comprar muitos livros e por isso abastecia-me nas carrinhas da Gulbenkian. A minha homenagem”, afirma.

O padre Adelino Ascenso vai estar esta semana no programa de rádio da Ecclesia na Antena 1, pelas 22h45, e nas «Conversas aGOSTO», publicadas online de segunda a sexta-feira, a partir das 17h00.

LS

«Conversas aGOSTO»: Os lugares de infinito do padre Adelino Ascenso (c/vídeo)

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