«Conversas aGOSTO»: Os lugares de infinito do padre Adelino Ascenso (c/vídeo)

Superior Geral da Sociedade Missionária da Boa Nova evoca momentos e pessoas na sua vida

Lisboa, 03 ago 2020 (Ecclesia) – O padre Adelino Ascenso, superior-geral da Sociedade Missionária da Boa Nova, apresenta-se como um “buscador de infinito”, marcado por um termo japonês que sempre viveu mas só mais tarde percebeu fazer sentido nos seus encontros.

Legenda: «Ichi-go-ichi-e», Foto: Padre Adelino Ascenso

“Há um termo japonês, ‘Ichi-go-ichi-e’, que significa ‘um tempo, um encontro’, um termo que se usa em especial na cerimónia do chá, que significa que este encontro é único, não se repete, mesmo que nos encontremos amanhã, à mesma hora… E, por isso, deve ser valorizado ao máximo. Se fizermos este exercício, esse momento vai acompanhar-nos até ao final da nossa vida. Quando o recordamos, esse momento torna-se presente na nossa vida”, explica à Agência ECCLESIA o sacerdote, com 66 anos de idade.

O padre Adelino Ascenso viveu 12 anos no Japão e fez duas grandes viagens, antes de entrar no seminário para ser ordenado, ao continente asiático e à América do Sul, afirmando-se “ávido de vida”.

“Sempre foi algo que eu senti só que não sabia explicar, como ainda não o sei explicar. A intensidade, a busca sempre foi muito intensa. Eu sou ávido de vida. Eu gostaria de continuar sempre a ser rebelde e a ser um buscador. Devemos ser buscadores do infinito e devemos ser infinitos na nossa busca, o que está por detrás e para além do horizonte”, explica.

As suas viagens foram sendo acompanhadas de busca, de silêncio, de encontros inesperados e a todos abraçou sem temor, sentindo assiduamente uma “presença tranquilizadora”.

Em Glencolumbkille, extremo ocidental da Irlanda, condado de Donegal, local que “obriga a silenciar e distender o olhar”, sentiu-se “mais próximo de Deus”, dos outros e de si.

No norte de Nagasaki, em Sotomé, local onde está situado o museu literário de Shūsaku Endō, um escritor japonês católico do Século XX, o padre Adelino recorda o “mar infinito, pintalgado de algumas pequenas ilhas, o céu azul com farrapos brancos de nuvens”, e a frase de homenagem aos cristãos escondidos: «Tanto sofrimento Senhor e o mar continua tão azul».

“Quase escutamos os gritos dos cristãos escondidos que ao longo dos tempos foram martirizados. Ali escuta-se o silêncio e reza-se em silêncio. Um silêncio que é plenitude”, explica.

Nas montanhas tibetanas, na selva do Equador ou nas ruínas de Pisac, cidade inca do Peru, novamente uma presença “muito reconfortante”.

Foto: Padre Adelino Ascenso

Subir com um índio as ruínas de Pisac, pernoitar lá em cima nas ruínas nos lugares de sacrifícios ao sol e à lua, e estar simplesmente iluminado pela luz da lua. É de uma mística impressionante. Aí novamente se sente uma presença que nós não podemos explicar, ou pelo menos, eu não posso”.

Na América do Sul, durante os 10 dias que esteve na selva amazónica com um pistoleiro, conheceu um “buscador de um Deus possível”.

“Quando nos sentávamos nas redes ou à volta da fogueira, no meio da selva, ele sabia que eu tinha estado no continente asiático e pedia-me que contasse episódios. Ele era um buscador, um esfomeado de Deus. Eu penso que ele era um esfomeado de um Deus possível que o libertasse daquela vida sem sentido de matar e ser morto. Ajudou-me a nunca confundir crime com criminoso”, recorda.

Com todas as pessoas com quem se cruzou, mesmo sem saber o termo japonês, o padre Adelino Ascenso concretizou-o: ‘um tempo, um encontro’.

“Em todos estes lugares rezei, chorei, ri, indaguei. Por isso, estes lugares ficaram em mim, mais do que eu neles: fazem parte de mim; são memória que se faz presente cada vez que recordo”, sublinha.

O padre Adelino Ascenso vai estar esta semana no programa de rádio da Ecclesia na Antena 1, pelas 22h45, e estreia hoje as «Conversas aGOSTO», disponíveis online, de segunda a sexta-feira, a partir das 17h00.

LS

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