Construção da Europa unida

No inicío eram seis membros mas hoje conta com 27, Francisco Sarsfield Cabral analisa os 50 anos da UE. Um balanço positivo A União Europeia celebra os seus 50 anos numa fase complicada no processo de integração. É verdade que a organização nasceu com seis países membros e conta hoje 27: o alargamento da UE é justamente considerado um sucesso. Mas a crise é óbvia. Basta pensar no impasse do chumbado tratado constitucional. A UE não dispõe de significativo poder militar. A Europa da defesa foi tentada, e falhou, logo no início da integração (a Assembleia Nacional de França chumbou em 1954 a Comunidade Europeia de Defesa). Já depois do colapso do comunismo, foi relançado por franceses e britânicos o projecto de integração nesta área. Mas pouco se avançou, pois os europeus não estão dispostos a gastar mais dinheiro na sua defesa. Mas a UE dispõe de um outro poder, o chamado “soft power”. Trata-se da sua capacidade de atracção: todos os países europeus (e até alguns não europeus, como Marrocos) querem ou quiseram entrar para o clube. E para isso empenharam-se em reformas de outra maneira impensáveis. Garantir a paz Todos querem fazer parte da UE, antes de mais, porque ela proporciona paz. Fazer a paz numa Europa onde nasceram as duas guerras mundiais da primeira metade do século XX foi a grande aspiração dos “pais” da integração europeia. Hoje, a paz na Europa parece um dado adquirido. Mas basta pensar na tragédia da ex-Jugoslávia nos anos 90 para sermos mais prudentes e não esquecermos a importância da UE para impedir as guerras do passado. Os países do ex-império soviético procuram na UE, além de um travão a conflitos étnicos e nacionais, uma protecção contra o gigante que os oprimiu durante décadas, a Rússia. Outros, como a Turquia, vêem na UE um factor de modernização económica, social e política – neste caso, um dique contra o risco do fundamen-talismo islâmico. Portugal mudou Em Portugal sentimos bem como a integração na então CEE mudou o país. Talvez o mais importante tenha sido a estabilização na vida política nacional que trouxe a adesão. Apesar de todas as crises que sofremos desde então, no nosso país deixou de se falar na possibilidade de um golpe de Estado, militar ou outro. Por um motivo: agora estamos na Europa comunitária, onde apenas cabem democracias. No plano económico, a integração trouxe mais prosperidade aos europeus. Há cinquenta anos estes perceberam que a riqueza dos Estados Unidos era, em boa parte, resultante do enorme mercado interno americano. Criar um grande mercado europeu sem barreiras, com livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais tornou-se, assim, um imperativo. E muito já se avançou nesse caminho, não obstante os surtos de nacionalismo económico que de vez em quando aparecem. Para a economia portuguesa foram importantes os fundos de Bruxelas. Mas o essencial está na abertura à concorrência que a nossa integração na Europa comunitária implica. Portugal é um pequeno país periférico e historicamente avesso ao mercado. Ora, a UE ajuda-nos a mudar, algo indispensável numa era de globalização acelerada como é a nossa. Além deste enquadramento para a competição no mercado global, a nossa pertença à UE, desde há 21 anos, proporcionou-nos muitas outras coisas a que não estávamos habituados, desde uma maior protecção e informação ao consumidor até um crescente intercâmbio dos jovens com outras culturas e outras nações. Um balanço positivo, portanto. Mas que não deve fazer esquecer que a Europa comunitária ainda não ganhou, e até se arrisca a perder, uma batalha essencial: a sua democraticidade e a aproximação das instituições europeias aos cidadãos. Francisco Sarsfield Cabral Director Informação Rádio Renascença

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