Congresso Eucarístico deixou marcas

Uma senhora de etnia tutsi, no meio da guerra no Ruanda entre tutsis e hutus, viu morrer à sua frente nove jovens que tentava proteger do conflito. Apesar da tensão que viveu e das ameaças de morte que recebeu com armas apontadas para si, anos mais tarde viria a testemunhar que foi o amor à Eucaristia que a impediu de sucumbir ao ódio. “A Eucaristia era a o único lugar onde ela ia buscar forças para resistir a tanto ódio”, afirma o Pe. José Manuel Pereira, Director do Secretariado da Pastoral Litúrgica de Aveiro e delegado da diocese ao Congresso Eucarístico Intencional, relembrando um testemunho partilhado no Quebeque. Mais tarde essa senhora tutsi deu origem a uma casa «Shalom» onde acolheu e resgatou várias crianças. “A partir dessa altura ela dizia às crianças que não eram mais tutsis ou hutus, mas passavam a ser crianças shalom, sendo essa a sua nova etnia”. Este foi um dos testemunhos emocionantes que os participantes do 49º Congresso Eucarístico Internacional puderam escutar nos dias que estiveram no Quebeque, no Canadá. Exemplos de força e de fé que se querem presentes quando se participa ou se dá testemunho da eucaristia. A participação no Congresso quer “renovar um fundamental amor à eucaristia”, exprime o Pe. José Manuel Pereira, descobrindo as variantes e tónicas que a eucaristia contem. O sacerdote aponta que habitualmente se fala da eucaristia como uma coisa, mas “é antes uma pessoa”. Esta, aponta, poderá ser a primeira grande conclusão para alguém que poderia mantendo-se “alheado”, poderia participando no Congresso. Dois pavilhões junto ao local do Congresso, transformados em capela, estavam “constantemente cheios de pessoas em adoração”. O Pe. José Manuel Pereira não esquece a vivência “intensa” que 13 mil pessoas vindas de todo o mundo fizeram do Congresso. “Não basta aquilo que se ouve, mas aquilo que se vê e se experimenta marca a vivência”. Foi esta a primeira vez que o director da Pastoral litúrgica de Aveiro participou num Congresso Eucarístico Internacional. Mas entre as 21 pessoas que compunham a delegação portuguesa, repetiam-se experiências. Uma procissão de cinco quilómetros, mas onde as pessoas estiveram do princípio ao fim, cantando e rezando pelas ruas da cidade, marcou o dia de Quinta feira. “Manifestações impressionantes que levam as pessoas que não acreditam a interrogar-se o que levou milhares de pessoas a andarem de baixo de chuva atrás de uma hóstia”. O sacerdote português descreve a procissão “como um momento difícil de comparar com outras vivências”. “Uma participação impressionante de 30 mil pessoas a percorrer as ruas”, recorda o Pe. José Manuel Pereira ter lido na imprensa canadiana. Aos congressistas se uniram muitos outros que foram mobilizados entre paróquias e curiosos. “Foi algo de extraordinário como eles admitiram nunca ter visto”. O dia do encerramento começou radioso, mas em plena eucaristia “caiu uma tromba de água e ficamos todos encharcados”. Mas a chuva e a trovoada não foi impedimento para o Cardeal Marc Ouellet, Arcebispo de Quebeque, descer junto dos participantes e distribuir a comunhão. Dois momentos que mostram “como as pessoas fazem experiências que podem marcar a sua vida”. O empenho pessoal no amor à eucaristia é a chave para não esquecer o que a participação no Congresso Eucarístico Internacional traz de novo. “O falar sem medo deste sacramento, não como uma coisa, mas como uma pessoa que está no centro da nossa fé” é o caminho indicado pelo sacerdote. Uma descoberta que, indica, “não está feita na nossa vida, nem pela maioria das pessoas”. “É intuída por alguns, sentida por outros, assumida por poucos, mas falta uma convicção interior e os Congressos têm por função despertar”. “Se as 14 mil pessoas presentes no Congresso levassem os testemunhos para as suas paróquias e os transmitissem a outros cristãos nas suas conversas diárias, multiplicariam uma acção que contagiou os participantes”, sublinha o Pe. José Manuel Pereira. Uma vivência pessoal cheia e emocionante impede uma projecção consciente nos planos para a Pastoral Litúrgica de Aveiro. Nos próximos dias será isso que o Director irá fazer. “Digerir o que vivi, deixar passar as emoções e equilibrar a parte racional para, quando falar com D. António Francisco dos Santos, contar o que fizemos e projectar a forma como a Eucaristia pode ser vivida em Aveiro”. Em 2012, outros testemunhos marcantes vão poder ouvir-se no 50º Congresso Eucarístico Internacional, a realizar-se em Dublin, na República da Irlanda.

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