Conferência dos Oceanos: Faltou ouvir «quem mais sofre» – José Varela

Membro da Rede «Cuidar da Casa Comum» participou na conferência de Lisboa e acompanhou delegação da Oceânia, entre os mais afetados pelas alterações climáticas

Foto: Oceaniatalanoa.com

Lisboa, 03 jul 2022 (Ecclesia) – José Varela, da Comissão Executiva da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’, disse que a Conferência dos Oceanos em Lisboa deveria ter ouvido mais a voz de quem sobre as consequências das alterações climáticas.

“Um dos delegados da Oceânia apresentou fotografias para mostrar pessoas que vivem diariamente com água à porta de casa, como se fosse uma inundação, mas permanente. Outra coisa é estar num sítio onde, se calhar, não me lembro disso todos os dias. Mas nós estamos unidos, o Oceano acaba por nos afetar a todos”, indica o responsável, convidado da entrevista semanal conjunta Renascença-Ecclesia, emitida e publicada semanalmente aos domingos.

Lisboa recebeu na última semana mais de 7 mil pessoas de 142 países para a segunda Conferência dos Oceanos, da ONU.

“É importante dar voz às histórias e ao testemunho pessoal, que é muito tocante, verdadeiro. Quando se fala do coração, não se consegue mentir”, precisa José Varela.

Questionado sobre o pessimismo manifestado por alguns participantes e organizações, o entrevistado destaca que “qualquer pequeno passo é importante”.

“Não é só a discussão técnica: há aqui também um trabalho de consciência”, precisa o também animador ‘Laudato Si’, uma das 8 mil pessoas qualificadas, em todo o mundo, a partir da encíclica ecológica e social que o Papa publicou em 2015, a qual considera um documento “que desinstala”.

José Varela destaca a presença inédita de uma delegação de lideranças católicas e indígenas da Oceânia, em Lisboa, que deram o seu contributo para o debate.

“Viemos a alertar para a necessidade de contar com outras esferas da atividade humana, a parte espiritual, a voz dos povos indígenas, da juventude”, observa.

Uma coisa que preocupa é o facto de o consumo ético muitas vezes ser mais caro do que o consumo não ético; se calhar deveria ser o contrário, incentivar quem tem essa preocupação”.

José Varela espera que a preocupação com os oceanos continue na ordem do dia e que, no futuro, haja mais espaço para os jovens nas tomadas de decisão, para “aprofundar e acelerar” a resposta às alterações climáticas.

O responsável anuncia que a Santa Sé e várias universidades vão promover, em outubro, uma conferência online, dedicada aos oceanos, “onde toda a gente terá voz”.

“A preocupação de cada um pode ser a preocupação de muitos. E este conjunto pode fazer de facto aos poucos a diferença, sem idealismos irrealistas”, justifica.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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