China: Sacerdote alerta que «situação da Igreja perseguida piorou», após o acordo entre a Santa Sé e Governo de Pequim

«Igreja perseguida sente-se, em certo sentido, cada vez mais sozinha», refere mensagem enviada à fundação Ajuda à Igreja que Sofre

Lisboa, 03 jun 2020 (Ecclesia) – O secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) informa que a “situação da Igreja perseguida veio a piorar ao longo destes 20 meses de Acordo Provisório” assinado entre a Santa Sé e o Governo chinês.

“O Governo aproveitou este acordo para enganar os membros do clero, tanto bispos como presbíteros, para que acreditem que não faz sentido estar fora da igreja patriótica, isto é, que fazer parte dela é a única solução”, escreveu um sacerdote, da chamada Igreja Clandestina, cuja identidade é mantida sob anonimato por motivos de segurança.

Numa mensagem enviada ao secretariado português da fundação pontifícia, o padre chinês adianta que os membros do Clero que “não querem fazer parte da igreja estatal são mais perseguidos, de várias formas”.

Em setembro de 2018, Pequim e a Santa Sé assinaram um acordo provisório sobre a nomeação dos bispos católicos, marcando uma nova etapa nas relações bilaterais, que permitiu que todos os prelados do país estejam

As relações diplomáticas entre a China e a Santa Sé terminaram em 1951, após a expulsão de todos os missionários estrangeiros, muitos dos quais se refugiaram em Hong Kong, Macau e Taiwan.

Em 1952, o Papa Pio XII recusou a criação de uma Igreja chinesa, separada da Santa Sé [Associação Patriótica Chinesa, APC] e, em seguida, reconheceu formalmente a independência de Taiwan, onde o núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) se estabeleceu depois da expulsão da China.

A APC seria criada em 1957 para evitar “interferências estrangeiras”, em especial da Santa Sé, e para assegurar que os católicos viviam em conformidade com as políticas do Estado, deixando assim na clandestinidade os fiéis que reconheciam a autoridade direta do Papa.

“Enquanto houver mundo sempre haverá perseguições, ou seja, a Igreja perseguida existirá até ao fim dos tempos; A situação atual é difícil e não será fácil melhorar enquanto não tivermos uma consciência clara da nossa identidade”, assinalou o sacerdote da Igreja clandestina.

“Lamentavelmente, bastantes membros do clero, por diversos motivos, estão a passar para a igreja estatal. Esta é uma realidade triste e dolorosa. A Igreja perseguida sente-se, em certo sentido, cada vez mais sozinha, porque não vê o apoio de que realmente necessita”, desenvolveu, numa mensagem divulgada pelo secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

No seu último relatório sobre a perseguição aos cristãos no mundo, publicado em 2019 a AIS deu conta que “o clero cristão continua sujeito a detenções arbitrárias e os regulamentos de construção são cada vez mais usados como pretexto para a demolição de igrejas”.

Recentemente, a 24 de maio, o Papa Francisco enviou uma mensagem e bênção especial aos católicos da China no dia em que celebraram a festa de Maria Auxiliadora, sua padroeira, particularmente venerada no Santuário de Nossa Senhora de Sheshan, perto de Xangai; E o vídeo com as intenções do Papa para o mês de março convidou à oração pelos católicos da China.

Em fevereiro, o secretário das Relações com os Estados da Santa Sé, monsenhor Paul Richard Gallagher – reuniu-se com o conselheiro de Estado e ministro das Relações Externas da República Popular Chinesa, Wang Yi, e apontaram o diálogo para favorecer as duas partes, num “encontro oficial” que não acontecia há 70 anos.

CB/OC

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