Catequese: «Ser catequista é uma das missões na Igreja que enriquece de forma extraordinária» – Maria Luísa Boléo

Com mais de 60 anos ligados à catequese e à formação, a catequista valoriza os «muitos caminhos» que hoje levam jovens e famílias a chegar «à realidade da fé»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 20 out 2022 (Ecclesia) – Maria Luísa Boléo tem 81 anos e dedicou mais de metade da sua vida à catequese, seja com crianças ou adultos, como também na formação de catequistas e reconhece nesta missão uma oportunidade de enriquecimento sem igual.

“Ser catequista é uma missão na Igreja que nos enriquece de forma extraordinária. Obriga-nos a preparar semanalmente o que vamos fazer. É difícil encontrar outra missão na Igreja que conduz a esta preparação semanal obrigatória de reflexão sobre aspetos doutrinais, de meditação, de descoberta de novas realidades no tesouro inesgotável da Palavra de Deus. Isso é um enriquecimento permanente para o catequista”, explica à Agência ECCLESIA.

A raiz da ligação de Maria Luísa Boléo à catequese encontra-a em casa, junto da sua mãe que, a partir de catecismo “vindo de França, do movimento Noelista”, ajudou os filhos no “despertar da fé”, quando em Portugal não havia catecismos preparados e disponíveis.

“Quando a minha mãe faleceu – infelizmente muito cedo, a minha irmã mais nova tinha três anos e meio e a minha mãe já lhe tinha começado a fazer o despertar religioso, pediu-me – esteve acamada 10 dias antes de morrer – para continuar eu essa preparação. Eu levei a sério, comecei imediatamente a fazê-lo. Fui recuperar os livros que a minha mãe tinha usado connosco e quando considerei que estava preparada – cerca de dois meses depois dela fazer seis anos – fez a primeira comunhão e foi crismada”, recorda.

O percurso de Maria Luísa Boléo está ligado ao Patriarcado de Lisboa e ao Secretariado Nacional de Educação Cristã onde integrou uma equipa que no final dos anos 80 preparou os 10 catecismos, correspondendo aos 10 anos de catequese.

“Há muitos caminhos para chegar à realidade da fé, os mais variados e todos são válidos. Mas o ambiente familiar que envolve uma criança e todo o acompanhamento feito dessa na missa dominical, com a família, é extremamente importante”, explica.

O percurso de crescimento da fé da catequista foi-lhe passado como uma herança, mas Maria Luísa reconhece que tem de haver um encontro pessoal, caso contrário não há uma “verdadeira adesão”.

“Não pode ser só uma rotina que se herdou. Tem de haver um momento na vida da pessoa, ou se calhar vários, em que a pessoa assume de facto como sua aquela fé que foi vivendo desde criança. A mim aconteceu-me com 29 anos, em que pus tudo em causa, o que tinha vivido até aí e questionei se o que estava a viver era uma ilusão. E vivi a alegria de perceber que não é uma ilusão, que é uma realidade profunda, que está metida na nossa vida e que sem ela, não se pode viver”, recorda.

Maria Luísa Boléo estudou Teologia, com os padres Dominicanos em Toulouse, tendo tido a facilidade de estudar com padres conciliares que lhe abriram “caminhos enormes de reflexão”.

O seu percurso, como catequista e como formadora, levou-a a Angola, onde descobriu realidade muito diferentes, dentro do próprio país.

“Tive a oportunidade de ir com os padres e irmãs da missão às aldeias circundantes, onde tive um contacto muito mais direto com as populações locais, e onde dei catequese na missão, que ficava fora da cidade a crianças que vinham de diferentes pontos, e que para poderem estudar, deslocavam-se porque viviam em pequenas aldeias onde não havia escolas”, recorda.

Em 1974 Maria Luísa Boléo regressou a Portugal mas não veio sozinha: trouxe a sua primeira filha, margarida, hoje com 51 anos.

“Houve um apelo porque vi muitas crianças órfãs de guerra, vi muitas crianças filhas da guerra, filhas de soldados portugueses com mulheres locais. Houve qualquer coisa em mim que se moveu nessa altura. Fui lutando contra isso, porque achava um disparate tomar uma decisão precipitada. Mas algo falou mais forte”, recorda.

À Margarida, juntou-se depois o Paulo, com 53 e o Nuno, hoje com 47 anos.

“Os caminhos são muito diferentes dos caminhos que imaginamos. Quando adotei a minha filha – e chamo adotar ao dia em que a levei para casa, é esse o dia que festejamos – 25 de fevereiro, porque, na realidade, os aniversários de nascimento são quase todos hipotéticos – não se podem garantir”, conta.

Aos 81 anos e com mais de 60 dedicados à catequese, Maria Luísa Boléo está envolvida com a preparação de um módulo para a formação de catequistas.

“Nunca pensei chegar a esta idade. Não escolhemos o percurso da nossa vida: vamos seguindo. Cheguei a esta idade e continuo a pensar no que vou fazer. Há sempre coisas novas a surgir. E os caminhos do Senhor são imprevisíveis, mas existem”, indica.

A conversa com Maria Luísa Boléo pode ser acompanhada no programa de rádio, emitido na antena 1, e disponível no site da Agência ECCLESIA.

LS

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