O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, assegurou que a Igreja Católica não teme os governos de esquerda, que até elogia quando se comportam como realmente “de esquerda”, mas condena as tentativas de instaurar regimes ditatoriais e ataques contra a vida, como recente legalização do aborto no distrito da Cidade do México. Em entrevista à revista católica “30Giorni”, publicada na véspera da viagem do Papa ao Brasil, o Cardeal Bertone apontou o dedo aos governos que “pretendem retomar regimes anacrónicos e ditatoriais” ou “quando se tornam reféns de algumas correntes culturais, apoiadas por fortes poderes transnacionais e mediáticos, que propagam de modo global modelos de vida cada vez mais distantes e hostis à tradição cristã e ameaçam os direitos fundamentais do ser humano e da Igreja”. O braço direito do Papa assegura que Igreja não vê com suspeita o emergir da esquerda latino-americana, precisando que a “Igreja não teme as siglas, mas eventualmente, os conteúdos”. “Se os governos de esquerda fazem alguma coisa de ‘esquerda’, isto é, se se preocupam em favorecer as classes mais humildes, como por exemplo favorecendo uma justa divisão das terras para que sejam cultivadas adequadamente ou se se preocupam em melhorar o sistema de saúde e de educação, estes governos só podem receber aplausos e a colaboração da Igreja”, afirmou. “A Igreja não esquece os pobres, não o pode fazer, porque iria contra o seu fundador, Jesus”, prosseguiu. Este responsável, contudo, disse que “não consigo entender o que existe de esquerda em apoiar leis que têm como efeito eliminar os mais fracos, como são as crianças não nascidas”, acrescentando que espera que o Brasil siga o exemplo da Nicarágua, onde foi aprovada uma lei mais restritiva sobre o aborto. Igreja e libertação O Secretário de Estado do Vaticano afirmou ainda que “uma certa teologia da libertação, não contaminada com doutrinas estranhas e opostas à fé cristã, como as marxistas”, possui pleno espaço dentro da Igreja Católica. O Cardeal negou que a Congregação para a Doutrina da Fé tenha notificado recentemente o teólogo salvadorenho Jon Sobrino, com o objectivo de lançar uma “advertência” contra a teologia da libertação. “Conheço bem a Congregação para Doutrina da Fé e sei que nos seus trabalhos, especialmente quando devem emitir este tipo de notificação, não fazem cálculos políticos”, disse. D. Taricisio Bertone indicou também que Sobrino não foi condenado “enquanto teólogo da libertação, mas por algumas opiniões redutoras da figura de Jesus Cristo, único e universal salvador dos homens”.