Cabo Verde: Bispo do Mindelo preocupado com falta de padres e implantação das seitas

D. Ildo Fortes alerta para os perigos do turismo, que alterou fisionomia católica do arquipélago

Lisboa, 18 jan 2012 (Ecclesia) – A falta de sacerdotes e estruturas da Igreja Católica na diocese cabo-verdiana do Mindelo está a ser aproveitada pelas seitas para se implantarem, considera o bispo local, um ano após a sua nomeação.

 “As seitas não perdoam: vão ter com as comunidades”, e como “o povo é pobre” encontram um “bom terreno” para se enraizarem, “por vezes fazendo promessas que não são consolidadas”, afirmou D. Ildo Fortes ao programa ECCLESIA transmitido esta segunda-feira na RTP-2.

Os “poucos padres” existentes na diocese criada em 2003, a par da ausência de estruturas, constituem dois dos principais problemas da Igreja local, referiu o prelado cabo-verdiano de 47 anos formado no Patriarcado de Lisboa.

“Algumas paróquias nem têm igreja”, pelo que “muitas vezes as eucaristias são celebradas em escolas, casas emprestadas ou na rua, o mesmo acontecendo com a catequese”, explicou.

D. Ildo Fortes, que a 25 de janeiro de 2011 recebeu a nomeação episcopal por parte do Papa Bento XVI, sublinhou que uma das prioridades da diocese sediada na ilha de São Vicente é “estar mais próxima das populações”.

[[v,d,2824,]]O responsável afirmou também que o país precisa “de ter maior cuidado com o turismo, por vezes um pouco desenfreado” e que, segundo a opinião generalizada da população, “não tem feito desenvolver as indústrias, restaurantes e meios de transporte”.

O turismo tem “coisas boas” mas também traz aspetos negativos, como as “grandes deslocações” da população para as ilhas onde há mais atividade turística, Sal e Boavista, onde a “fisionomia cristã” se alterou, disse.

O bispo considera que as eleições presidenciais de agosto foram uma “prova de maturidade política e democrática”, sendo agora necessária uma “adaptação” entre o presidente, Carlos Fonseca, e o Governo, de opções políticas diferentes.

O responsável salientou que os episódios de “criminalidade” e “desrespeito civil” em Cabo Verde se devem em parte à “ausência de valores”, associada ao “crescimento do secularismo” e ao facto de “muita gente” ter abandonado a Igreja.

A pobreza está a crescer, aumentam as disparidades entre ricos e pobres e o desemprego, “muito grande”, o que pode gerar conflitos especialmente na juventude, que constitui, a maioria da população, apontou.

Na Boavista, adiantou, há bairros “problemáticos” e a “paróquia é uma das instituições que mais respostas tem dado, tentando construir escolas, assistindo as necessidades das pessoas, criando locais de culto”.

A disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica está ausente das escolas mas a situação poderá mudar com a assinatura da Concordata entre Cabo Verde e a Santa Sé.

O acordo diplomático, “quase concluído”, compromete o Estado na salvaguarda da “riqueza que é a fé e os valores cristãos” e estabelece parcerias no âmbito da saúde e educação, com a possibilidade de serem criadas universidades católicas.

Depois de referir que o fluxo migratório é hoje “muito mais controlado” devido às exigências dos países de destino, D. Ildo Fortes acentuou que “é difícil para um cabo-verdiano obter um visto”, especialmente por parte dos mais pobres ou que têm menos qualificações.

PTE/RJM

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