Bispo do Funchal deixa mensagem de esperança para a tragédia da Madeira

Crucifixo e imagem da Imaculada Conceição de capela arrasada pelo temporal marcaram presença na missa celebrada na Sé, perante milhares de pessoas

“É hora de olhar em frente e reconstruir o futuro”: foi este o apelo deixado por D. António Carrilho na missa celebrada este Domingo na Sé do Funchal. “Se é grande o sofrimento do nosso povo, seja maior a força da nossa esperança”, afirmou.

O prelado considerou que é preciso “conservar e desenvolver o espírito de solidariedade, atenção mútua, união e entreajuda fraterna”. Este é também o momento oportuno para “reavivar, aprofundar e esclarecer a fé cristã, tão profundamente arreigada na alma e na cultura do nosso povo madeirense, sentindo que não caminhamos sós”.

As palavras de D. António Carrilho foram reforçadas pela presença do crucifixo e da imagem da Imaculada Conceição “resgatados do meio do lamaçal, que ficou a ocupar o espaço da conhecida Capela das Babosas, construída em 1906, para comemorar os 50 anos do Dogma da Imaculada Conceição”.

Para o bispo do Funchal, as imagens “bem se podem considerar verdadeiros sinais de consolação e de esperança para o nosso povo, já interpretados por muita gente como apelos à reconstrução da Capela e, mais ainda, à vivência da presente situação das nossas vidas”.

A primeira parte da homilia foi dedicada à descrição das visitas que D. António Carrilho fez às zonas mais afectadas pelo temporal de 20 de Fevereiro.

“Pude conhecer bem de perto a história e a situação de muita gente: vidas destroçadas pela morte e desaparecimento de entes queridos; sonhos e projectos de longos anos subitamente desaparecidos; perda de grande parte ou da totalidade dos seus bens, como as próprias habitações e as fontes ou garantias do sustento quotidiano; destruição da beleza e encanto de tantos espaços comuns de convivência e lazer da nossa cidade e da nossa Região”, assinalou o bispo do Funchal.

“No quadro desta catástrofe – prosseguiu o prelado – cada pessoa tem a sua história própria e única: momentos de perplexidade e angústia, sem saber o que fazer nem como fazer; a alegria de ajudar alguém a salvar-se ou de sentir-se ajudado e liberto de algum perigo; a fé e a esperança, expressas na oração, em súplica confiante a Deus, por intercessão da Virgem Nossa Senhora ou de algum santo da devoção pessoal.”

D. António Carrilho expressou a sua comoção perante “tantos casos e tantos testemunhos, que emocionam, suscitam compaixão e desejo de ajudar, edificantes pela coragem e pelo espírito de caridade, que manifestam”. “A par da natural angústia e possível desespero momentâneo, perante situações de verdadeira impotência humana, surgem gestos e atitudes de profundo humanismo e sentido cristão”, acrescentou.

Diante da devastação humana e material, “quem não desejaria a intervenção miraculosa (…) como resposta directa aos problemas pessoais e sociais?”, perguntou. Depois de explicar que “Deus respeita as leis da natureza”, o prelado assinalou que a fé vivida no seguimento de Cristo “supera o desespero e a revolta, e leva-nos a assumir a vida toda em referência a Ele: as alegrias e as tristezas, as facilidades e as dificuldades, o sofrimento e a própria morte”.

Durante a sua intervenção, D. António Carrilho destacou “a onda extraordinária de comunhão e solidariedade” que se gerou “a nível regional, nacional e internacional”. No âmbito das instituições da Igreja, o bispo do Funchal destacou a “mensagem do Papa Bento XVI, com palavras de conforto e a sua paternal Bênção Apostólica para todo o nosso povo”.

De acordo com dados avançados ao Jornal da Madeira pela secretária regional do Turismo e Transportes, Conceição Estudante, há 42 vítimas mortais do temporal. Dos 120 feridos assistidos no hospital devido às enxurradas, 70 ficaram internados e, desses, 16 continuam sob observação mais cuidada, embora apresentem prognóstico favorável.

Nesta Segunda-feira o trânsito regressou a quase todas as ruas do Funchal, excepto em cinco vias. O dia está a ser também marcado pela reabertura das escolas e serviços públicos.

O Centro de Operações de Socorro e Emergência, que funcionou nas instalações dos Bombeiros Municipais, foi desmobilizado. A autarquia criou dois gabinetes para apoio à reconstrução das infra-estruturas fundamentais e para atendimento à população afectada pela intempérie. Estes serviços funcionam desde Segunda-feira na Câmara Municipal.

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