Bíblia deve ser estudada nas escolas

D. Gianfranco Ravasi pediu na Universidade Católica, reflexão alargada do texto bíblico para o homem de hoje D. Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, considera que a Bíblia deveria ser estudada na escola “não por razões religiosas, mas por motivos culturais”. Reconhecendo que para o homem de hoje a Bíblia tem uma mensagem “distante”, manifesta que os “grandes símbolos do passado não estão ultrapassados culturalmente”. O Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura esteve ontem, dia 19, na Universidade Católica Portuguesa para proferir uma conferência sobre “A Bíblia, «Grande Código» da cultura ocidental”. D. Ravasi acredita que para os jovens de hoje, “a Bíblia representa, pelo menos, o símbolo de uma estrada a percorrer”, explicou à Agência ECCLESIA no final da conferência. O homem de hoje “perdeu a capacidade de acolher os grandes símbolos da riqueza do passado”. O Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura afirma que a comunidade eclesial, mas também a escola, deve fazer um esforço “para propor os grandes símbolos do passado, os grandes temas”. D. Ravasi indica que se deve encarar o texto bíblico não apenas como uma “grande fonte para a teologia e para os especialistas dentro dos espaços sacros”, mas aponta o esforço que se deve desenvolver para “oferecer o texto bíblico como um grande ponto de referência para a compreensão da cultura do passado e da cultura actual”. “Na Bíblia encontramos os grandes temas existenciais que dizem respeito a todos os homens. Temas sobre o bem e o mal, a vida e a morte, o amor e o ódio, a dor, o desespero, mas também a vida de esperança”, aponta, evidenciando que são temas importantes para todos os seres humanos, “independentemente dos credos”. D. Gianfranco Ravasi indicou que a Bíblia possui “uma componente estrutural no domínio artístico, ético e social na cultura ocidental”. Este “grande código” reinterpreta e actualiza coordenadas “históricas e culturais novas e diversas”. O Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura indica que episódios bíblicos ganham um novo olhar quando reflectidos por “um exegeta como Gerhard von Rad que reúne reinterpretações actualizadas de Kierkegaard Lutero ou Rembrandt”. D. Ravasi aponta outro “tópico da qualidade estética da Bíblia” – a capacidade “degenerativa” que o texto sagrado tem “ao transformar-se em pretexto para falar de outra coisa ou para rebater o seu sentido original”. O Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura indica que a deformação da mensagem original mostra que a Bíblia tem uma força enorme. “Saramago, por exemplo, não prescinde dos temas religiosos”, lembra. O ministro da cultura do Vaticano afirmou que quer propor a presença da Santa Sé na Bienal de Veneza de arte contemporânea, no próximo ano. O objectivo é juntar cinco artistas célebres de arte que possam “preparar os grandes símbolos bíblicos”, porque “faltam, seja para refutar ou para concordar, expressões artísticas que ultrapassem os sonhos primários da interpretação artística”. Será uma oportunidade “provocatória para criar”. D. Ravasi indica um último modelo interpretativo – o transfigurativo. “A arte consegue frequentemente tornar visíveis ressonâncias secretas de um texto sagrado”. «A Paixão segundo Mateus” de Bach é um dos exemplos citados Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura para mostrar a que “por mais palavras que um exegeta utilize para explicar uma frase bíblia, há outras demonstrações que atingem a sensibilidade e o ponto fulcral da mensagem”. “Há artistas que arriscam uma interpretação fulgurante através das imagens”. A Igreja São Luís dos Franceses, em Roma, expõe um quadro onde o pintor Caravaggio evidencia os momentos fundamentais da vida de São Mateus, nomeadamente a vocação. “Uma luz emocionada, não frontal, mostra como sem palavras e através de uma sensibilidade artística, se tocam as pessoas”. Espelhar a importância da Palavra Presente também na conferência na UCP, o Cardeal Patriarca de Lisboa não deixou de comentar, e porque o tema era a Bíblia, o inquérito que indica que os diocesanos de Lisboa lêem pouco o texto bíblico. D. José Policarpo mostrou-se pouco surpreendido com os resultados. O Cardeal Patriarca de Lisboa aponta ser um risco interpretar os dados de uma forma absoluta e generalizada, pois “a amostragem é muito pequena”. D. José Policarpo admite ser “muito positivo a frequência com que os cristãos procuram ler as escrituras”, apesar de reconhecer que “o ritmo de vida das pessoas impõe outras prioridades nas comunidades”. A presença da Palavra de Deus nos grupos de trabalho e de reflexão “não está espelhada no estudo”, indica o Cardeal Patriarca que acrescenta que os indicadores do inquérito servem sobretudo para “nos levar mais longe na linha da comemoração da palavra de Deus”. O Ano Paulino será uma “óptima ocasião para fazer da Palavra de Deus um caminho completo de descoberta do cristianismo”. O Cardeal Patriarca de Lisboa explica que tanto o Ano Paulino como o próprio Sínodo dos Bispos, marcado para Outubro sobre a Palavra de Deus, são “iniciativas que, sendo internas, querem irradiar para fora a importância da Palavra”. D. José Policarpo sublinha que “a igreja nunca faz nada para dentro”. O Sínodo dos Bispos, sendo um encontro interno da hierarquia da igreja, “com toda a mediatização feita em torno deste evento e a vastidão dos estudos preparatórios, terão uma repercussão na cultura”, aponta. A caminhada proposta para o Ano Paulino pela CEP “não é um passeio turístico. Ela é arriscada e carregada de surpresas”, indica o Cardeal Patriarca de Lisboa. A cultura portuguesa…vista de fora Falando à margem da conferência, o Presidente do Conselho Pontifício da Cultura reconhece em Portugal “uma identidade própria, visível na língua, por exemplo, que mantém uma tradição escrita”, indica. “O contributo português na Europa, não se restringe a razões políticas”, aponta D. Ravasi, referindo-se ao papel português no Tratado de Lisboa. As razões culturais são inegáveis, considera, porque Portugal “apresenta figuras preponderantes”. D. Ravasi recorda que o escritor José Saramago apesar das críticas que faz à religião, na escrita, reconhece a sua força. “As figuras do passado, como Pessoa, deixaram um traço particular na cultura”, exemplifica. O Presidente Ravasi aponta também o fado como um símbolo próprio da cultura portuguesa que ultrapassa as fronteiras portuguesas, e que “continua a chegar à Europa”. O Presidente do Conselho Pontifício da Cultura admite que “talvez Portugal devesse entrar mais na cultura europeia, mais do que acontece actualmente”. Ravasi relembra muitos são os que se interessam pela cultura portuguesa, como é o caso do escritor italiano António Tabuchi, “um admirador e investigador das raízes de Portugal”. Notícias relacionadas A Bíblia, «Grande Código» da cultura ocidental

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