Bernhard Häring, no centenário do Nascimento

Padre Jerónimo Trigo, cmf, Professor Faculdade de Teologia da UCP

Bernhard Häring nasceu no dia 10 de novembro de 1912. Fez a profissão religiosa na Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas) e foi ordenado sacerdote em 1939.

A experiência da segunda guerra mundial marcou-o profundamente e deu-lhe sensibilidade para várias temáticas: a vida humana, a violência, o ódio e a morte; o ecumenismo, a reciprocidade de consciências; o sentido (ou a sua perda) da responsabilidade pessoal e comunitária, a degradação pessoal obediência cega, etc.
Terminada a guerra, apresenta em 1947, em Tubinga, a tese de doutoramento: O sagrado e o bem; relação entre ética e religião. Alguns temas abordados: a religião não se reduz à moral; a religião implica uma moral; a moral não postula a religião, mas não se lhe opõe.

Entretanto vai estruturando a sua perceção de Teologia Moral: em articulação com a espiritualidade; vida moral entendida como “resposta” a uma “vocação”, neste sentido a responsabilidade torna-se um dos conceitos chave; ética do seguimento de Cristo como modo de superar a heteronomia e a autonomia ensimesmada, e que vai a par com a orientação personalista da moral; personalismo de caráter cristocêntrico; vida moral não como auto perfeição, mas como entrega a Deus, em Jesus Cristo, e aos irmãos.

Em 1951 inicia a lecionação em Roma, na Academia Alfonsiana, recentemente fundada. Em 1954 publica os três volumes do manual A Lei de Cristo, traduzido em 14 línguas, ponto de convergência de várias abordagens anteriores. Teve um grande impacto. É de ressaltar o subtítulo: Teologia Moral para sacerdotes e leigos. Trata-se de uma proposta não orientada para o ministério de confessor, como na Teologia Moral casuística, mas para a formação da consciência pessoal e comunitária. O mote é apresentado no primeiro volume: “a lei que dá vida em Cristo Jesus libertou-me da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 2).

Orientações fundamentais: moral salvífica, da graça que impele à resposta por parte da pessoa, em vista da plenitude; relação estreita entre Teologia Moral e Espiritualidade; moral cristocêntrica e marcada pela realidade existencial. A categoria “lei”, entendida em sentido positivista, deixa de ser o centro.

Pontos relevantes: a pessoa, como ser individual e ser social; a dimensão histórica da existência; a compreensão de liberdade; a conceção de consciência moral; a relevância do personalismo cristão.

A Lei de Cristo preparou o caminho para a renovação da Teologia Moral auspicada pelo Concílio Vaticano II. B. Häring participa ativamente nele, como consultor e como perito. Deixa marca profunda em textos significativos: em OT 16, sobre a metodologia da Teologia Moral, em LG 30-38, sobre os leigos, e 39-42, sobre a vocação de todos à santidade, em GS, sobretudo 16, sobre a consciência moral, e 47-52, sobre o matrimónio e família.
Depois do concílio, entre de 1978 a 1981, publica em três volumes, um novo manual: Livres e Fiéis em Cristo. Não é uma adaptação do anterior, mas uma síntese nova, tendo em consideração a teologia conciliar e as novas realidades eclesiais, sociais e científicas; mantém o subtítulo; desenvolve o cristocentrismo. A referência global é de matriz paulina: “viver em Cristo”; substitui palavra “lei”, por “liberdade” e “fidelidade”, duas categorias que se entrelaçam. Trata-se de uma liberdade vinculada à fidelidade; de uma liberdade fiel e criativa. O mote apresentado no primeiro volume é indicativo: “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gal. 5,1).

Realça a antropologia moral centrada no ser em Cristo, na liberdade, na fidelidade e na responsabilidade; propõe a superação de uma moral de atos, através da moral de opção fundamental, e é à sua luz, que se refere ao pecado; apresenta a consciência moral em perspetiva personalista; leis e normas morais são analisadas a partir da revelação compreendida no contexto da vida nova em Cristo, a lei nova.

B. Häring em vários livros, artigos e conferências trata, não sem polémicas e com muita parresia, de temas de teologia moral fundamental, e de muitos outros, como matrimónio e sexualidade, bioética, paz, não-violência, secularização, vida consagrada, ministério sacerdotal, espiritualidade, etc.

Padre Jerónimo Trigo, cmf
Professor Faculdade de Teologia da UCP

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