Bento XVI/Cuba: Apelos à unidade e renovação

Papa evitou confrontos com o regime de Raúl Castro, sublinhando necessidade de reafirmação do catolicismo

Santiago de Cuba, Cuba, 26 mar 2012 (Ecclesia) – Bento XVI prosseguiu hoje em Cuba a sua segunda viagem à América Latina, primeira na ilha caribenha, deixando apelos em favor da unidade de todos os cubanos e da renovação da sociedade local.

Na primeira das duas missas previstas para as pouco mais de 48 horas de estadia em Santiago de Cuba e Havana, o Papa falou em favor de uma sociedade “aberta e renovada”, baseada na paz e no perdão.

A necessidade de reconciliação nacional esteve presente nas intervenções de Bento XVI, que se dirigiu sempre a todos os cubanos, “onde quer que se encontrem”, numa alusão aos exilados e emigrantes em vários países.

A primeira intervenção papal após a chegada do México aludiu às “justas aspirações e os legítimos desejos” da população, incluindo as “dos presos e dos seus familiares”.

À Igreja Católica, disse Bento XVI, compete estar na linha da frente para “construir uma sociedade melhor, mais digna do homem”.

“Quando Deus é posto de lado, o mundo transforma-se num lugar inóspito para o homem”, alertou, na Praça Antonio Maceo, perante 250 mil pessoas, num clima de festa que acompanhou o Papa nas ruas cubanas.

Bento XVI mostrou-se reconhecido pela “coragem e dedicação” dos católicos e defendeu que a Igreja tem a missão de “abrir o mundo para algo maior do que ele mesmo, ou seja, para o amor e a luz de Deus”.

O presidente Raúl Castro, que recebeu o Papa no aeroporto internacional de Santiago, disse que o país se sentia “muito honrado” com a segunda viagem papal da história a Cuba, 14 anos depois da visita de João Paulo II.

A passagem do Papa polaco, disse Bento XVI, “deu novo vigor à Igreja em Cuba”, ao mesmo tempo que “reacendeu a esperança e revigorou o desejo de trabalhar corajosamente por um futuro melhor”.

Um futuro partilhado com um país que olha “para o amanhã”, procurando “renovar e ampliar os seus horizontes”, destacou o atual Papa, antes de admitir que as relações entre Igreja e Estado têm aspetos em que se “pode e deve avançar”.

Raúl Castro garantiu o respeito pela liberdade religiosa e elogiou as “boas relações” diplomáticas com a Santa Sé, “baseadas no respeito mútuo”, bem como a “coincidência” de posições com o Papa, em vários temas.

Nos discursos inaugurais, ambos viriam a concordar na dimensão moral da atual crise financeira, com Bento XVI a pedir uma “mudança de direção cultural e moral” face à “ganância e o egoísmo de certos poderes que não têm em conta o bem autêntico das pessoas e das famílias”.

Castro, que sucedeu no poder ao seu irmão Fidel, frisou, por seu lado, a desconfiança face a “modelos sociais e ideologias que destroem os valores espirituais”.

Após a missa desta noite, o Papa seguiu para o Seminário São Basílio Magno, em El Cobre, nos arredores de Santiago de Cuba, pernoitando junto do Santuário da Virgem da Caridade que vai visitar, esta terça-feira de manhã, como peregrino, no ano jubilar celebrado pela Igreja cubana.

Depois de saudar a população local, o Papa parte rumo a Havana, num voo de 750 km, com chegada prevista para as 12h00 (mais seis em Lisboa); quando forem 17h30, o Papa visita Raúl Castro no Palácio da Revolução – admitindo-se a presença do antigo líder Cubano, Fidel Castro -, antes de jantar com os bispos de Cuba, pelas 19h15, na Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé), edifício que será a sua residência em Havana.

OC

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