Bento XVI assina Sexta-feira carta acerca dos abusos sexuais sobre menores na Irlanda

Cardeal Primaz D. Seán Brady admitiu estar «envergonhado» por nem sempre ter conservado os valores em que acredita

O Papa vai assinar na próxima Sexta-feira, 19 de Março, uma carta acerca dos abusos sexuais sobre menores cometidos por padres na Irlanda.

O anúncio foi feito por Bento XVI durante a audiência geral semanal que decorreu esta Quarta-feira, dia em que a Igreja evoca São Patrício, evangelizador e padroeiro daquele país.

“Assinarei esta carta na próxima Sexta-feira, solenidade de São José, guardião da Sagrada Família e patrono da Igreja universal, e enviá-la-ei logo depois”, afirmou o Papa na Praça de São Pedro, em Roma.

Na alocução, Bento XVI referiu que o documento resulta da sua “profunda preocupação” sobre uma situação que classifica de “dolorosa”.

“Nestes últimos meses, a Igreja da Irlanda foi severamente abalada devido à crise dos abusos sexuais sobre crianças”, reconheceu o Papa, que espera que a missiva possa contribuir para “um processo de arrependimento, cura e renovação”.

Bento XVI pediu “a todos” que leiam o texto “com coração aberto e em espírito de fé”.

Cardeal Primaz pede desculpa

Na missa celebrada esta Quarta-feira na catedral de Armagh, Irlanda, o Cardeal Primaz do país recordou que esta semana foi confrontado com um “episódio doloroso” do seu passado.

“Escutei a reacção de pessoas acerca da minha actuação em acontecimentos ocorridos há 35 anos. Quero dizer a todos aqueles que foram prejudicados por alguma falha da minha parte que lhes peço desculpa de todo o meu coração”, afirmou D. Seán Brady na homilia.

“Olhando para trás, estou envergonhado por nem sempre ter conservado os valores que professo e em que acredito”, acrescentou o prelado.

O Primaz prevê que os próximos dois anos “estarão entre os mais críticos para nós desde o tempo de São Patrício”.

“Acredito profundamente que Deus nos chama a um novo começo”, declarou D. Seán Brady, para quem a “Carta Pastoral do Papa Bento XVI aos Fiéis da Irlanda” será uma importante fonte de renovação.

Para o prelado, a transformação da Igreja local passa por uma escuta “sincera” e “orante” da Palavra de Deus, pela atenção aos sinais do Espírito e por continuar “humildemente” a encarar a “enorme dor causada pelo abuso de crianças por parte de alguns padres e religiosos e a resposta irremediavelmente inadequada a esse abuso no passado”.

Até 2012, ano em que Dublin, capital da República da Irlanda, recebe o 50.º Congresso Eucarístico Internacional, deve haver um “reconhecimento sincero e verdadeiro do nosso pecado”.

Na análise do Cardeal Primaz, a “integridade” do testemunho do Evangelho desafia o episcopado a “assumir a responsabilidade” pelo “encobrimento” dos abusos em crianças.

O bem das vítimas da pedofilia, leigos, religiosos e padres exige que a Igreja detenha a revelação sucessiva destes casos, referiu D. Seán Brady.

Depois de assinalar que ninguém sabe até onde levará o “novo princípio” da Igreja irlandesa, o prelado assegurou que vai “reflectir cuidadosamente” sobre a situação durante a Semana Santa, Páscoa e Pentecostes.

O Cardeal Primaz concluiu a homilia dizendo que aproveitará esse tempo “para rezar, para reflectir na Palavra de Deus e para discernir a vontade do Espírito Santo. Reflectirei no que ouvi daqueles que foram feridos pelos abusos. Vou também falar com pessoas, padres, religiosos e com aqueles que conheço e amo”.

Igreja esclarece participação de D. Seán Brady em inquérito a abusos de menores

Famílias das vítimas exigiram a demissão de D. Seán Brady depois de a Igreja ter reconhecido que ele participou, no ano de 1975, em duas reuniões durante as quais duas alegadas vítimas de abusos sexuais assinaram uma declaração em que se comprometiam a respeitar a confidencialidade da recolha de informações.

Numa nota emitida esta Terça-feira, a Igreja da Irlanda informou que em Março de 1975 o Pe. Seán Brad, doutorado em Direito Canónico, foi encarregado pelo seu bispo, D. Francis McKieman, de conduzir um inquérito acerca de abusos sexuais sobre crianças, sublinhando que o então sacerdote “não tinha poderes de decisão” no que diz respeito às consequências das inquirições por ele conduzidas.

O mesmo comunicado refere que foi pedido às duas alegadas vítimas que confirmassem, sob juramento, a veracidade das suas declarações e que se comprometessem em manter a confidencialidade do inquérito, com o objectivo de não prejudicar as averiguações e assegurar a robustez das provas no momento em que o sacerdote acusado, Pe. Brendan Smythelas, fosse confrontado com elas.

No início de Abril, o Pe. Seán Brady transmitiu ao bispo os resultados da sua investigação; este, por sua vez, informou o Superior do Pe. Brendan Smyth no dia 12 de Abril.

O esclarecimento da Igreja da Irlanda sublinha que “a responsabilidade específica pela supervisão das actividades do Pe. Smyth foi sempre dos seus Superiores” e que D. Francis McKieman retirou o presbítero de funções sacerdotais e aconselhou que ele se submetesse a tratamento psiquiátrico.

Foto: Bento XVI na Praça de São Pedro, Roma, antes da audiência de 17.3.2010

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