Bênção e dedicação da Igreja Nova de São João de Ver

«Este é um dia grande consagrado ao Senhor; não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força». Com estas palavras de Neemias, escutadas na primeira leitura da Eucaristia de hoje, quero exprimir a minha alegria e partilhá-la convosco neste dia tão belo e importante para a comunidade paroquial de São João de Ver e para todos os habitantes desta freguesia. Tal como todo o esforço, mesmo cansaço, do Povo de Deus, por ser fiel ao Deus da Aliança, no meio de um povo estrangeiro, reconhecido pelo profeta que convida a nova coragem para seguir na docilidade ao chamamento de Deus presente na Palavra que lhe era oferecida, reconheço o longo percurso, os momentos de entusiasmo e de preocupação, de coragem e de dificuldade, que nortearam este longo trajecto da edificação deste templo. Por isso, dando graças a Deus pela concretização deste projecto, apresentamos ao Senhor como dom de nós mesmos todos aqueles que se afadigaram, trabalharam, lutaram para que hoje pudéssemos ter a alegria de ver realizado aquilo que há várias décadas atrás foi o sonho de dotar esta comunidade cristã de uma Igreja digna para acolher todos aqueles que a ela quisessem recorrer. Neste ambiente de alegria e de acção de graças ao Senhor Nosso Deus, construtor da história e edificador da nova humanidade em Cristo Jesus, a Palavra do Senhor convida-nos a aprofundar a consciência do que estamos a celebrar. Edificámos um templo, os nossos olhos contemplam as maravilhas da inteligência e do espírito humano, traduzidos na arte e na conjugação do esforço, mas a leitura da fé leva-nos mais longe e reconhece que este lugar é sinal de um outro templo que já no Antigo Testamento queria significar o habitar de Deus no meio do Seu Povo. Deus peregrina com os homens, partilha da sua sorte, como Pai, respeitando, embora, integralmente a liberdade e autonomia dos seus filhos, torna-se próximo para estabelecer o diálogo que Ele tanto deseja e que o Povo de Deus tanto necessita, a tal ponto, que no Seu Filho, se estabelece uma relação tão profunda entre o ser humano e Deus, através da Encarnação, que Jesus Cristo identificou o verdadeiro templo consigo mesmo. Recordemos o episódio do encontro de Jesus com os que vendiam no templo e aos quais Jesus interpela, afirmando: «Destruí este templo e eu em três dias o levantarei» (Jo.2, 19). Conclui o evangelista deste modo: «mas Ele falava do templo do seu corpo»(Jo. 2, 21). Igualmente, todos os membros da comunidade cristã de São João de Ver e mesmo todas as pessoas desta freguesia devem olhar para esta nova Igreja e descobrir nela o sinal visível da realidade de Jesus Cristo que quis habitar no meio de nós. Ele, sim, é o verdadeiro templo onde habita Deus. De tal modo, que todo o ser humano sequioso de Transcendência, o mesmo que é dizer de Deus, possa caminhar para Ele através d’Aquele que disse de si mesmo: «Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai senão por mim» (Jo.14,8). Mas a palavra de Deus a partir da centralidade da permanente Encarnação de Jesus Cristo no meio do mundo, figurada no templo físico, amplia o seu significado. Escutámos no Evangelho o apelo que Jesus faz a Pedro, «Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja» (Mt. 16,18); Ele, Jesus Cristo, que, no dizer de S. Paulo, é a Pedra angular (cfr. Ef.2, 20), e nEle qualquer construção bem ajustada cresce para se tornar um templo santo do Senhor. Se, por um lado, Jesus Cristo, exigindo a Pedro um conhecimento perfeito e professado acerca da sua Pessoa e Mistério, o confirma como a rocha inabalável sobre a qual irá construir a sua Igreja, e neste sentido, proclama a verdade fundamental de uma Igreja, comunidade de discípulos, alicerçada no colégio Apostólico; por outro, ainda na linguagem de S. Paulo, convida-nos a nós, em comunhão de fé viva, consciente e empenhada com os Apóstolos, a participar da mesma construção. Recordemos neste sentido as palavras de S. Paulo que dizem: «Já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, com Cristo por Pedra angular. N’Ele qualquer construção bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor, em união com o Qual também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito, habitação de Deus» (Ef. 2, 19 -22). Grande é a dignidade a que somos chamados, grande a tarefa que nos é pedida, grande a glória que usufruímos para a partilharmos com todo o ser humano que a ela aspira porque por ela está marcado. Continuando ainda a nossa reflexão a partir de S. Paulo, ecoa nos nossos ouvidos a palavra tão nobre e edificante que escutámos na segunda leitura, numa afirmação tão categórica «vós sois edifício de Deus» (1Cor. 3, 9). Paulo identifica-se agora com o arquitecto que colocou o alicerce e apela a uma grande vigilância para que ninguém destrua o único fundamento que é Jesus Cristo. Palavra tão actual, não só no reconhecimento do que somos; tão necessária se torna esta iluminação em tempos de desconcerto, de relativismo, futilidade e superficialidade, que reclama em nós a consciência verdadeira do alicerce da nossa vida humana, dos valores e critérios que contam e dignificam a pessoa, e da fé cristã que solidamente enraizada e bem conhecida se torna fonte inesgotável de oferta de vida autêntica para todo aquele que nos questionar sobre as razões da nossa esperança (cfr. 1Pe. 3, 15); mas também para todos os discípulos de Jesus Cristo que se reconhecem chamados a fazer a experiência de ser Povo de Deus, Comunidade, que vive intensamente a vida da Graça divina, comunica de maneira fiel a Jesus Cristo tal como Ele é, para que não se mutile Aquele que é a Água viva que sacia a sede do ser humano de qualquer tempo e, por isso, também o ser humano actual (cfr. Jo 4). Tal como S. Paulo, somos «administradores dos mistérios de Deus. Ora o que se requer dos administradores é que sejam fiéis» (1Cor.4, 1-2). É dos maiores contributos que poderemos dar à cultura actual e aos homens e mulheres do nosso tempo, se afincadamente reconhecermos e oferecermos a verdade do Evangelho tal como nos é apresentada na pessoa de Jesus Cristo e nos é proclamada pela fé apostólica. Todos os sinais da bênção e dedicação da Igreja nos elevam para o sagrado, para Deus que habita neste lugar privilegiado para a oração, para a celebração dos sacramentos, através dos quais a comunidade cristã se alimenta dos gestos salvadores de Jesus Cristo e partilha, em acção de graças, o amor fraterno. Mas, S. Paulo insiste em que a santidade é própria de cada um de nós, individual e comunitariamente, porque somos habitados pelo Espírito Santo. O mesmo Espírito Santo que, santificando-nos nos faz reconhecer o que tem ou não consistência na vida de cada pessoa e de cada comunidade, nos convida a respeitar a santidade de Deus que habita neste templo e, de igual modo, apreciar e edificar a santidade de Deus presente em cada pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus e de maneira singular nos mais desfavorecidos da sociedade com os quais Jesus Cristo se quis, preferencialmente, identificar. Neste ambiente de festa e de acção de graças, permitam-me que convide esta comunidade cristã de São João de Ver a continuar o seu esforço por edificar os espaços necessários para que o templo hoje dedicado possa ser sinal também do acolhimento e do diálogo com o mundo e a sociedade dos homens. A insistência do Concílio Vaticano II em apresentar a Igreja em diálogo com o mundo de hoje exige também as estruturas para que a comunidade cristã possa de modo adequado realizar as suas tarefas de aprofundamento das Verdades da Fé, do exercício da caridade e da promoção cultural. Que não falte a coragem para continuar com esta obra. A construção de um novo edifício para a reunião da comunidade cristã numa freguesia é uma ocasião importante de caminhada comum que em muito contribui para se edificar uma outra construção que nunca está acabada, mas que está continuamente a crescer, a construção da comunidade humana e cristã. Bons passos já se deram que são a garantia de outros novos que se necessitam de dar até se alcançar a verdadeira estatura de Jesus Cristo, modelo do ser humano renovado. A este empreendimento vos deveis dedicar com generosidade e esforço, usufruindo agora de espaço mais condigno com as actividades que uma comunidade cristã tem necessidade de realizar. Termino com uma palavra de congratulação e de agradecimento por parte da diocese do Porto e do seu Bispo a todos os que tornaram possível a edificação desta Igreja, aos párocos, nomeadamente o actual Padre António Costa, aos senhores arquitectos, nomeadamente o que ultimamente acompanhou esta fase das obras, às autarquias, Câmara Municipal e Junta de Freguesia, às Comissões que se organizaram para este fim, numa palavra a toda a Comunidade Cristã de São João de Ver. Que Nossa Senhora, que trouxe a Jesus Cristo no seu seio, verdadeiro Templo de Deus, encaminhe esta Comunidade e cada um de vós até ao Pai, por meio do seu Filho Jesus Cristo. Amén + João Lavrador Bispo Auxiliar do Porto

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