As eleições no Congo não resolveram os problemas humanitários

Líder religioso preocupado com problemas sociais “Para além do processo eleitoral, que domina a actualidade da República Democrática do Congo (RDC), há crises humanitárias que não podem ser escondidas”, afirma Dom Fulgence Muteba, Bispo de Kilwa-Kasenga, na parte centro-meridional de Katanga, no sul da RDC, num documento em que analisa a situação na área. Segundo o Bispo, finalmente a violência que dominava a região cessou, mas esta deixou uma marca profunda na população. “A febre eleitoral não deve fazer-nos esquecer os desafios humanitários deixados pela violência”, escreve Dom Muteba. O Bispo elogia o trabalho da Caritas local, das organizações humanitárias e da MONUC (Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo) a favor dos desabrigados do chamado “triângulo da morte”, a área mais marcada pela presença de milícias armadas. Dom Muteba critica, porém, a Comissão Nacional para o Desarmamento e a Reinserção dos ex-combatentes (CONADER) ao afirmar que “presa numa burocracia caracterizada pela negligência, a Comissão demonstrou toda a sua ineficácia“. Segundo um relatório de Janeiro de 2006 do Grupo Internacional de Crise, em Katanga criou-se uma administração estatal e militar paralela, cujo objectivo é proteger os interesses de alguns administradores corruptos. A população civil é violentada e obrigada a finaciar os grupos armados que actuam na região. Por esse motivo, Dom Muteba denuncia “o silêncio que por muito tempo envolveu o conflito e a impunidade da qual gozam aqueles que violaram os direitos humanos. Os senhores da guerra, que saíram da floresta, ainda não foram levados diante da justiça”. O Bispo afirma também que “alguns combatentes beneficiaram até mesmo da política de desarmamento, recebendo alguns dólares” por terem entregue suas armas. “Pior ainda”, continua Dom Muteba, “após se beneficiaram deste dinheiro, foram encontrar suas vítimas nos campos de refugiados, exibindo os bens que adquiriram. O retorno desses criminais, com a sua arrogância, provocou choque e indignação colectiva entre os refugiados”. As condições da população não melhoraram. Dom Muteba descreve assim a vida dos refugiados que retornaram a seus vilarejos de origem: “Os vilarejos reconquistados parecem-se com novos campos para desabrigados. A fome ainda faz muitas vítimas. É preciso reconstruir os vilarejos e todas as infra-estruturas, arrumar o cultivo, retomar a criação de gado, reconciliar a população. Em síntese, é preciso reconstruir tudo, principalmente o homem” conclui.

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