Olhar Deus, colaborar no bem comum
O Evangelho deste 29.º Domingo do Tempo Comum termina com esta afirmação: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Confrontado com a questão do pagamento do tributo, Jesus convida os seus interlocutores a mostrar a moeda do imposto e a reconhecerem a imagem gravada na moeda, a imagem de César. Depois, Jesus concluiu com essa afirmação.
Provavelmente, Jesus quis sugerir que o homem não pode nem deve alhear-se das suas obrigações para com a comunidade em que está integrado. Em qualquer circunstância, ele deve ser um cidadão exemplar e contribuir para o bem comum. Chama-se a isso “dar a César o que é de César”.
No entanto, o que é mais importante é que reconheçamos Deus como o nosso único senhor. As moedas romanas têm a imagem de César: que sejam dadas a César. Mas nós não temos inscrito em nós próprios a imagem de César, mas sim a imagem de Deus, pois Deus criou o ser humano à sua imagem. Portanto, pertencemos somente a Deus, devemos entregar-nos a Deus e reconhecê-l’O como o nosso único senhor.
Jesus vai muito além da questão que Lhe puseram. Recusa-Se a entrar num debate de carácter político e coloca a questão a um nível mais profundo e mais exigente. Na abordagem de Jesus, a questão deixa de ser uma simples discussão acerca do pagamento ou não pagamento de um imposto, para se tornar assim um apelo a que reconheçamos Deus como o nosso senhor e realizemos a nossa vocação essencial de entrega a Deus.
Jesus não está preocupado sequer em afirmar que devemos repartir equitativamente as nossas obrigações entre o poder político e o poder religioso; mas está sobretudo preocupado em deixar claro que pertencemos só a Deus e devemos entregar toda a nossa existência nas suas mãos. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político.
Portanto, para o cristão, dizer que Deus é a referência fundamental e está sempre em primeiro lugar não significa que ele viva à margem do mundo e se demita das suas responsabilidades na construção do mundo. O cristão deve ser um cidadão exemplar, que cumpre as suas responsabilidades e que colabora ativamente na construção da sociedade humana. Deve respeitar as leis e cumprir pontualmente as suas obrigações tributárias, com coerência e lealdade. Não deve fugir aos impostos, nem aceitar esquemas de corrupção, nem infringir as regras legalmente definidas.
Viver de olhos postos em Deus é colaborar no bem comum, é lutar por um mundo melhor e por uma sociedade mais justa e mais fraterna. Sabemos bem quanto isso é urgente na situação em que vivemos. Que isso conste da nossa oração e ação, neste Dia Mundial das Missões, que nos recorda que somos missão de Deus ao serviço dos irmãos.
Manuel Barbosa, scj
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