Ano A – 22.º Domingo do tempo comum

Levar a cruz de Cristo

As leituras deste 22.º Domingo do Tempo Comum apresentam-nos três perfis de discípulos: Jeremias, que, para lá de todas as dificuldades encontradas, se deixa seduzir pelo amor de Deus; Paulo, que nos convida a ultrapassar os modelos do mundo para que as nossas vidas estejam de acordo com a vontade de Deus; Pedro, que receia a cruz para Jesus mas também para si mesmo.

Na primeira leitura, o profeta Jeremias descreve a sua experiência de cruz. Seduzido por Deus, colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projetos, enfrentando os poderosos. Por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição. É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Deus no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus.

A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência quotidiana a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere: não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendendo a discernir os planos de Deus e a viver em consequência.

No Evangelho, Jesus avisa os discípulos de que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom da vida até à morte, se for necessário. Quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer esse caminho semelhante ao de Jesus.

Muitos de nós recebemos uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas obrigações legais, mas que muitas vezes deixou para segundo plano o essencial: o encontro e o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser batizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental sobre a qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e toma a mesma cruz de Jesus.

O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.

Tomar a cruz é amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes.

Que género de discípulos somos? A liturgia de hoje convida-nos a descobrir a “loucura da cruz”: o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do dom da vida na cruz.

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

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