Aljezur «transformou-se» em Taizé

Aljezur «transformou-se» em Taizé no passado fim-de-semana. A identificação da vila algarvia com a Comunidade Ecuménica da Borgonha francesa teve a ver com a realização do III Encontro Diocesano de Taizé que ali teve lugar ao longo daqueles dias. Cerca de 120 jovens, vindos um pouco de todo o Algarve, participaram no programa proposto, marcado pelo ritmo da oração e pela Eucaristia. Com a presença do irmão David, membro da Comunidade Ecuménica francesa, que esteve de passagem por Portugal, este encontro, que começa a assumir-se na Diocese do Algarve como uma das actividades de referência ao nível da juventude, serviu de preparação para a participação dos algarvios no Encontro de Taizé em Sevilha, que decorrerá de 8 a 10 de Maio, e sobretudo para as peregrinações diocesanas a Taizé, agendadas este ano de 9 a 16 e de 16 a 23 de Agosto, sendo previsível a participação de mais de uma centena de participantes. Acolhidos pelas famílias do concelho aljezurense que os alojaram nas suas próprias casas, os participantes foram recebidos no pavilhão dos Bombeiros Voluntários de Aljezur onde foram oferecidas todas as refeições, bem como o baile popular que animou a primeira noite. No sábado, a manhã foi aproveitada para um peddy-paper de reconhecimento dos principais pontos de interesse da vila e para o primeiro momento de oração do dia, na igreja matriz. A tarde foi de reflexão, subordinada ao tema “A Missão”, no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Aljezur, tendo cabido ao pároco local, o padre José Joaquim Campôa, a intervenção introdutória. O sacerdote frisou ser comum a todos “a missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo”. “A missão tem de nos estimular no sentido de corresponder ao chamamento de Deus”, observou, salientando que “mais do que as palavras, contam sobretudo os nossos gestos”. “A missão é feita de gestos, atitudes, disposição e entrega aos outros”, destacou. Carmem Santos, que voltou a apresentar o testemunho da sua missão em Angola, na província de Lunda Sul, na diocese de Saurimo, confirmou que a sua participação na Peregrinação Diocesana a Taizé, em 2007, na qual optou pela modalidade de silêncio, ajudou também a clarificar a necessidade que sentia de fazer uma experiência de missão Ad Gentes. O último interveniente da tarde, o irmão David, falou da sua experiência de missão, da missão que levou o falecido irmão Roger a fundar a Comunidade de Taizé e da missão que cabe a cada um dos jovens e menos jovens. Aquele representante da Comunidade Ecuménica de Taizé, o único português membro da irmandade composta por diversas nacionalidades, incentivou os jovens a não ter medo de assumir a sua fé. “Assumir que somos cristãos, que vir à igreja nos ajuda e traz alegria e ajuda a encontrar sentido para aquilo que fazemos”, concretizou. O irmão David lembrou que “a sede que o irmão Roger encontrou, quando tinha 20 e poucos anos, foi uma sede de paz”. “Como cristãos não podemos anunciar um Deus de paz e amor e depois ficar só nas palavras e não fazer nada para ajudar a construir a paz”, confrontou, reconhecendo que “o testemunho que muitas vezes damos não é esse testemunho de paz que ajuda a criar harmonia à nossa volta”. “Viver como irmãos continua a ser a raiz e a fonte da nossa vida em Taizé hoje, não em bonitas palavras e bonitos discursos, mas no concreto da nossa vida”, testemunhou, considerando que a estrutura de acolhimento de Taizé que hoje existe poderá não ser a mesma daqui a 10, 20 ou 30 anos. “Estamos sempre muito abertos para procurar responder a essa missão que Cristo nos confia hoje”, explicou, estimulando os jovens a “estar atentos aos sinais” à sua volta e à missão que vai “necessariamente evoluindo”. Dando como exemplo a realidade de Taizé, lembrou que “no início existiam meia dúzia de irmãos que viviam da agricultura, mas quando começaram a chegar pessoas a Taizé tiveram de se adaptar”. “A oração da nossa comunidade também evoluiu. No início era muito mais tradicional (em latim com canto gregoriano) mas as pessoas não percebiam nada”, recordou, advertindo os jovens para a importância desta prática. “A oração contemplativa ajuda-nos a descansar em Deus. É importante procurarem como é que a oração pode ter um lugar relevante, não só nestes encontros, mas na vossa vida. Caso contrário, a missão torna-se vazia e sem sentido”. Com vista à missão que cada um tem a realizar, o irmão David sublinhou a importância de se confiar em Deus. “Se ficarmos à espera de conhecer todo o caminho nunca vamos conseguir avançar. O caminho faz-se a pouco e pouco, de pequenos passos”, justificou. Lembrando que a comunidade dos irmãos pretende apenas proporcionar em Taizé “ uma experiência simples de oração e encontro [pessoal, com os outros e com Deus]”, o irmão David garantiu, ser igualmente possível realizar “a experiência concreta de oração e de partilha nas grandes cidades”, recuperando a filosofia que está por detrás dos Encontros Europeus de Taizé, realizados anualmente numa grande cidade europeia. A terminar, defendeu que “a missão não deve ser vivida na ilusão daquilo que não temos e gostaríamos de ter, mas deve antes ser vivida, sabendo acolher aquilo que é posto à nossa frente”. Como incentivo à participação no Encontro de Sevilha, explicou que o mesmo poderá constituir uma oportunidade “para conhecer a realidade da Igreja em Sevilha”. “Poderemos ver como, em contextos diferentes, também há jovens (e menos jovens) que procuram viver esse compromisso cristão”, antecipou. No sábado à noite, a igreja matriz de Aljezur foi pequena para acolher todos os que, de perto e de longe, se quiseram associar aos jovens para a principal oração realizada segundo a espiritualidade de Taizé. Para além do Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, estiveram ainda presentes dois diáconos, uma representação da comunidade de clausura das Carmelitas Descalças do Carmelo do Patacão (Faro), entre outras religiosas, o pastor Georg Welker, da Igreja Evangélica Alemã (Luterana) no Algarve e muitos outros jovens que não participaram no encontro do fim-de-semana. “Sinto-me muito bem aqui convosco”, reconheceu o Bispo do Algarve, antes do início da oração ecuménica, destacando a presença, para além dos jovens, de muitas outras pessoas. “A espiritualidade de Taizé é para todos e a vossa presença aqui só vem confirmar isso”, constatou o prelado. No domingo, o ponto alto do dia foi a participação na Eucaristia na igreja matriz de Aljezur. O padre José Joaquim Campôa, que presidiu a celebração, deixou uma palavra de incentivo aos participantes, desejando que aquela experiência contribua para impulsionar o testemunho junto de outros jovens. “Que Jesus fique para sempre no vosso coração. Deixai-vos renovar por este Cristo que é «fonte de água viva» e levai-O. Dai o vosso testemunho e vivei com os outros nesta alegria, nesta transmissão da fé, nesta caminhada”, afirmou. O III Encontro Diocesano de Taizé terminaria, novamente na igreja paroquial, com a participação do grupo Laudate que inspirou momentos de oração através da sua música de mensagem cristã.

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