Algarve: Diácono permanente e esposa são responsáveis pela liderança prática da Paróquia de Odiáxere

Decisão tem apoio dos sacerdotes da Companhia de Jesus a quem foi confiada a comunidade algarvia

Faro, 30 out 2020 (Ecclesia) – O diácono permanente Nuno Francisco e a sua esposa Cristina vão liderar a Paróquia de Odiáxere, num ensaio de alternativas à liderança paroquial, acordado entre a Diocese do Algarve e a Companhia de Jesus (Jesuítas).

“O que eu andava a fazer era quase como se fosse um acólito mais velho. Isto veio pôr no concreto e possibilitar o enriquecimento da nossa vocação diaconal e esperamos que também o enriquecimento desta comunidade”, disse o diácono permanente, de 44 anos, pai de dois filhos, ao jornal diocesano ‘Folha de Domingo’.

Nuno Francisco, professor do primeiro ciclo na Escola Básica da Pedra Mourinha em Portimão, explicou que a decisão para assumir o trabalho numa paróquia foi em casal “ao longo do percurso de preparação para o diaconado”.

“Fomos conversando algumas vezes com o senhor bispo sobre isso, dizendo-lhe que, se houvesse falta, estaríamos disponíveis”, acrescentou o diácono permanente ordenado a 16 de junho de 2019.

“Não fazia sentido dizermos «não». Claro que ficamos sempre espantados e com os medos, mas ao mesmo tempo temos a convicção interior de que ao dizer «não» estaríamos a anular a graça recebida aquando do Sacramento. Se recebemos um sacramento em ordem ao serviço como é que depois, chamados para servir a Igreja, dizíamos que não?”, acrescentou Cristina Francisco, de 42 anos, enfermeira da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos do ACES (Agrupamento de Centros de Saúde) Barlavento, com sede em Lagoa.

Para a entrevistada, este serviço que o casal assume “acaba por ser um testemunho a toda a juventude, cada vez mais acomodada, com muitos medos”, e que, por isso, “não vai em frente, não se assume em coisas novas”.

“Quando se diz: «não vou para padre porque não posso casar», [é preciso] perceber que na Igreja há outros caminhos, uma diversidade de vocações. Como a messe é muito grande também temos de nos pôr ao serviço e não podemos ficar parados”, desenvolveu Cristina Francisco.

O jornal da Diocese do Algarve informa que esta é “a primeira vez que acontece” esta liderança “numa parceria estabelecida entre a diocese algarvia e um instituto religioso”, a Companhia de Jesus, mas que já se realiza “há 30 anos” numa situação semelhante que “foi pioneira” no ensaio de alternativas de direção paroquial não assentes exclusivamente na figura do pároco, com o diácono permanente Albino Martins e esposa nas paróquias serranas do nordeste algarvio.

“Estamos muito gratos, quer aos Jesuítas, quer ao senhor bispo pela sua abertura para que isto se concretize. Por isso, uma palavra também de reconhecimento para a visão que ele está a ter do que pode vir a ser a Igreja no Algarve”, acrescentou o diácono Nuno Francisco.

O bispo do Algarve defendeu a necessidade dos cristãos manifestarem abertura a “estas formas de serviço na Igreja” e assinalou que a falta de vocações ao ministério ordenado “pode muito bem também ser sinal de que Deus” está a dizer para servir “a Igreja de outra maneira e de outro modo, com presbíteros, com diáconos, mas também com leigos”.

“Não devia ser apenas em situações de necessidade. Devia ser linha de princípio, até porque, cada vez mais, os nossos padres têm um número crescente de paróquias e não é possível, humanamente e temporalmente, conseguirem acompanhar tal como gostariam e tal como as comunidades precisam as paróquias que estão a seu cargo”, desenvolveu D. Manuel Quintas.

O responsável católico lembrou que o recurso a leigos “com uma formação adequada, credenciados para servirem a comunidade”, “não como pastores”, mas “como animadores da comunidade” já acontece “em Igrejas mais jovens e com dificuldade da presença de um presbítero”.

O jornal ‘Folha do Domingo’ informa que na solução para a Paróquia de Odiáxere foi determinante para a Companhia de Jesus que o diácono Nuno Francisco assumisse, apoiado pela esposa, a sua liderança prática e que os sacerdotes Jesuítas ficassem a prestar apoio na retaguarda.

“A comunidade de Odiáxere tem a oportunidade de ser percussora num convite a que as comunidades possam viver com mais partilha de responsabilidades e um maior envolvimento de todos”, salientou o provincial dos Jesuítas em Portugal, o padre Miguel Almeida, sobre “uma experiência nova” para a Companhia que “parece corresponder à melhor colaboração” que podem dar à Diocese do Algarve.

O padre jesuíta Domingos Costa foi nomeado pároco-moderador de Odiáxere, comunidade que paroquiou de 1981 a 1985, para além de ser há 40 anos o responsável pela Paróquia da Mexilhoeira Grande, de onde é natural o diácono permanente Nuno Francisco.

A Comissão Episcopal Vocações e Ministérios ( CEVM), da Conferência Episcopal Portuguesa, vai promover esta terça-feira a Jornada Nacional do Diaconado Permanente, no contexto dos “quarenta anos das primeiras ordenações de diáconos permanentes” em Portugal.

O ministério do diácono permanente, na Igreja Católica, está particularmente destinado às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas, bem como assistir o bispo e o padre nas missas, administrar o Batismo, presidir a casamentos e exéquias, entre outras funções.

No caso dos candidatos ao diaconado permanente, esta é uma missão para toda a vida, a que podem aceder homens, incluindo os casados, com mais de 35 anos.

O Motu Proprio ‘Sacrum Diaconatus Ordinem’ (18 de junho de 1967), do Papa Paulo VI, promulgou a restauração do diaconado permanente na Igreja Latina, segundo decisão tomada no Concílio Vaticano II.

CB/OC

 

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