Alentejo: Festival «Terras Sem Sombra» estreou ópera com mensagem ecológica

Serpa foi «laboratório cultural» e palco de um «momento histórico»

Serpa, Beja, 23 mai 2016 (Ecclesia) – A adaptação alentejana da ópera ‘Onheama’ foi apresentada em Serpa e o diretor-geral do Festival ‘Terras sem Sombra’ (FTSS) assinalou que pode ser um aviso ambiental “muito interessante” porque “é uma luta entre o bem e o mal”.

À Agência ECCLESIA, José António Falcão explicou que a ópera infanto-juvenil ‘Onheama’, que significa eclipse na língua indígena tupi, resultou da reflexão que fizeram em torno da Encíclica ‘Laudato Sí’, onde o Papa Francisco faz um repto à humanidade que “salvaguarde o património bio diverso”.

“Foi a partir desta reflexão que sentimos que a ópera pode ser um aviso muito interessante até porque é uma luta entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, e acaba por vencer, naturalmente, esta luz”, desenvolveu sobre a ópera que nasceu no contexto da Amazónia e foi adaptada, construída e produzida no Baixo-Alentejo.

O também diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) da Diocese de Beja, promotor do FTSS, observa que o património internacional que é a Amazónia “não pode deixar ninguém indiferente” e surgiu uma “amazónia alentejana”; A “grande floresta” é composta por sobreiros e a sua cortiça foi usada na construção do sol e da lua, da ópera.

“Houve uma ligação profunda à nossa região e aos seus produtos mais característico”, acrescentou o professor e historiador, alertando que os problemas que existem nos países que partilham o “tesouro comum” que é a Amazónia [América Latina] ajudam a resolver os que existem em Portugal.

‘Onheama’ é a “famosa ópera em três atos”, do autor musical brasileiro João Guilherme Ripper, que estreou em 2014, no Festival Amazonas, de Manaus, e “nunca” tinha sido apresentada na Europa, até este sábado.

Para José António Falcão a estreia no Teatro Municipal de Serpa foi um “momento histórico” porque foi estreia do FTSS nesse município, e a primeira vez que se realizou uma ópera encenada, com os três atos, com toda a estrutura característica de uma ópera no Baixo-Alentejo.

“Serpa acaba por ser para nós um laboratório cultural com toda esta experiência que é transversal à sociedade e de alguma maneira aqui representando a sociedade civil”, acrescenta, destacando a conjugação “muito interessante de parcerias e colaborações de apoios” para essa realização.

Para além da ópera infantojuvenil com mensagem ecológica, este domingo, o programa do FTSS convidou a uma ação de biodiversidade no Parque Natural do Vale do Guadiana, pela Serra de Serpa.

Os participantes visitaram também o microclima de Limas, “um local edénico” onde a biodiversidade tem os seus “valores máximos”, tendo atingido “um alto grau de proteção”.

O acidente geológico do Pulo do Lobo também estava incluído e José António Falcão destacou o “sítio mítico” da história nacional, “não só pelo caráter cenográfico mas todo o imaginário”.

As ações de biodiversidade começaram em 2010 e “houve algumas incompreensões” sobre a relação entre Igreja e clima/ambiente.

“A encíclica [Laudato Sí] vem mostrar que temos de caminhar em comunidade, num coletivo alargado, no fundo contando com todas as pessoas de boa vontade para conseguirmos de alguma maneira conseguirmos inverter esta espécie de escalada para um abismo”, observa, relembrando com “orgulho” que contribuíram numa secção “muito específica” do documento papal sobre espécies de pequena dimensão como o Saramugo.

A 12.ª edição do FTSS tem como tema «Torna-Viagem: o Brasil, a África e a Europa (Da Idade Média ao Século XX)» e termina a 2 de julho, no Centro das Artes em Sines.

IM/CB

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