Alegres na esperança

João Aguiar Campos, Diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

“Sede alegres na esperança, pacientes na aflição, perseverantes na oração”.

Esta exortação do Apóstolo Paulo aos cristãos de Roma (Rom. 12, 12) atingiu-me, há dias, em cheio, quando me pediram para escrever sobre a alegria. Estava então em Fátima, sob uma acesa tempestade que derrubou árvores, afugentou pessoas e lavou o largo terreiro com vigorosas bátegas de água. Mas foi precisamente ali, e nas circunstâncias telegraficamente descritas, que o essencial da reflexão nasceu.

Confirmei, dias depois, a atualidade do tema quando os olhos poisaram num artigo da newsletter do portal Ver, intitulado “Fomos feitos para sorrir”.

Nele ressaltam conclusões de um estudo do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, dando conta de que, em 2012, houve uma “diminuição relevantíssima na frequência e intensidade do sorriso” dos portugueses, acentuando uma tendência que vem em crescendo desde 2003.

Esta tendência para o rosto fechado ou “a face neutra da expressão”, revela quanto a situação que o país vive incide sobre os sinais de esperança. Mas importa contrariar uma tal ausência de alma…

1. “Alegres na esperança” – eis um lema que seria bom ver impresso na vida de cada homem e mulher deste tempo atormentado; mas, ainda com mais obrigação e urgência, na vida de cada crente.

É, de facto, em momentos de acentuada neblina que mais indispensável se torna quem sabe o caminho. Ora os crentes devem ser “apóstolos esperançosos, que confiem com alegria nas promessas de Deus” – como lembrou o Papa Bento XVI quando, em 23 de setembro de 2005, recebeu, em visita ad limina, o terceiro grupo de bispos do México.

Viver e propor a esperança não é, evidentemente, iludir a fragilidade humana ou camuflar a presença do mal e da dor. Também não é cultivar ou confessar um mero otimismo.

Viver e propor a esperança é estar seguro da bondade e benevolência de Deus: “a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5,5).

 

2. “Viver de esperança, não é viver à espera”, mas partir e testemunhar até aos confins da terra (Act 1,8). É compreender que a virtude comporta “o compromisso de transformação do mundo à luz do Evangelho e tem, como único manancial, o Espírito Santo” – como afirmou João Paulo II.

Quem viva alegre na esperança levará ao mundo o “óleo da alegria”, convicto de que o mesmo mundo, apesar das suas feridas, merece ser amado, pois que também Deus o amou ao ponto de lhe entregar o Seu próprio Filho. Em Jesus, de facto, “apareceu a bondade de Deus” (Tit 3,4).

É verdade que ninguém deve ser pateta alegre ou vestir uma permanente máscara de carnaval; mas não deixa de ser doentio o pessimismo impede de levantar os olhos e ver “os campos que estão doirados para a colheita” (Jo 4,35).

Para muitos já vai demasiado longe o Ano Paulino… Mas está na hora de recordar que perante os Coríntios, “firmes na fé”, o Apóstolo se apresentou como servidor da sua alegria (2 Cor 1,24).

Entendo que só corações enamorados revelam, sem rugas nem distorções de vidro embaciado, o rosto de Cristo.

João Aguiar Campos

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