África: Igreja acredita que pode fazer a diferença

Temas da reconciliação, da justiça e da paz no centro das preocupações da segunda assembleia africana do sínodo A Igreja acredita que pode fazer a diferença em África, ao serviço da “reconciliação, da justiça e da paz”. Estes temas estão no centro da II Assembleia especial para a África do Sínodo dos Bispos, cujo documento de trabalho («Instrumentum laboris») o Papa irá entregar solenemente aos representantes dos episcopados do Continente esta Quinta-feira, 19 de Março, nos Camarões. 15 anos depois do primeiro Sínodo africano, que abordou questões relacionadas com a missão evangelizadora em vista do jubileu de 2000, esta segunda reunião dos episcopados católicos de África vai decorrer em Outubro próximo, no Vaticano – uma opção que alguns contestam, mas que tem como intenção mostrar que os problemas dos católicos deste Continente não são periféricos, mas estão no coração de toda a Igreja. Ponte entre estes dois grandes momentos é a capital camaronesa, Yaoundé, onde João Paulo II promulgou, em 1995, a Exortação Apostólica pós-sinodal “Ecclesia in África” e Bento XVI irá entregar o documento orientador do próximo Sínodo. Do documento que leva o actual Papa aos Camarões sabe-se que é um texto de 94 parágrafos, distribuídos por cinco capítulos, para além da introdução e da conclusão. Abordam-se diversos aspectos dos desafios centrais – reconciliação, justiça, paz -, não só à luz das problemáticas actuais em África, mas também com os seus aspectos positivos. Entre as dificuldades evidenciadas destacam-se o etnocentrismo ou o tribalismo que muitas vezes está por detrás de outros problemas – conflitos, nepotismo e corrupção, impunidade. O entusiasmo que se gerou com a obtenção da independência por parte das nações africanos acabou por desaparecer, muitas vezes, por causa do falhanço de governos, de iniciativa política ou militar. Em entrevista ao jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, D. Nikola Eterović, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, destaca a importância de ir ao encontro das esperanças dos africanos e dar voz às experiências de reconciliação e de paz. Quanto ao «Instrumentum laboris», recorda que o mesmo nasce de uma ampla consulta aos Bispos locais (ver questionário, em baixo) e é fruto de “uma grande colaboração”. “O diálogo é apresentado como algo a que não se pode renunciar, com uma atenção particular às relações com o Islão, destacando algumas regiões onde há aspectos positivos e outras onde não faltam problemas”, adianta D. Eterović. Temas como as pandemias que atingem a África ou a escravidão também estarão presentes neste documento orientador, que propõe uma revisão do caminho feito desde o I Sínodo, de 1994. “A Igreja, no Continente, está sempre na primeira linha quando se trata de reconciliação, justiça, educação, saúde”, assinala o secretário-geral do Sínodo. Para este responsável, há em África “urgência de reconciliação, paz e justiça”. “Há muitos conflitos diferentes, como recordou muitas vezes Bento XVI, não podemos ficar de braços cruzados. O crescimento quantitativo da Igreja deve ser também qualitativo”, aponta. Em conclusão, diz D. Eterović, “a Igreja quer contribuir para um crescimento da sociedade, aplicando a sua doutrina social às diversas situações”. As perguntas aos Bispos de África Introdução 1. O que é que aproveitámos da «Ecclesia in Africa», da sua preparação e aplicação, para a vida das nossas Igrejas particulares e dos nossos povos ? 2. O que falta ainda fazer em prol do novo contexto africano? Capítulo I 3. Quais são as evoluções positivas que se verificaram na Igreja e na sociedade depois da «Ecclesia in Africa»: a) em relação ao tema da reconciliação; b) em relação ao tema da justiça; c) em relação à questão da paz? 4. Quais são as dificuldades com que a vossa Igreja particular e a vossa sociedade se defrontaram na vossa região: a) no plano sócio-político; b) no plano sócio-económico; c) no plano sócio-cultural; d) no plano eclesial; e) na colaboração com os muçulmanos em temas de justiça, de paz e de reconciliação; f) na colaboração com os adeptos da Religão Tradicional Africana no plano da justiça, da paz e da reconciliação; g) na colaboração com os outros cristãos? 5. Como enfrentastes essas dificuldades, tanto as provocadas pelos próprios Africanos como as resultantes das desordens internacionais? Capítulo II 6. Qual é o impacto da vossa fé em Cristo na vossa vida quotidiana? 7. A Palavra de Deus encontra-se verdadeiramente no centro da vida da vossa família, da vossa comunidade eclesial viva, da vossa paróquia? 8. De que modo a nossa fé em Cristo Salvador nos ajudou a promover as acções úteis para a Igreja e para a sociedade? Capítulo III 9. A Igreja é verdadeiramente uma família no seio da vossa comunidade eclesial viva? 10. Que fazeis para realizar e viver, no seio da vossa comunidade, essa dimensão familiar que transcende e une todas as tribos e raças? 11. Como nos ajuda a Eucaristia a viver os nossos empenhos em favor da paz, da reconciliação e da justiça, e aceitar os sacrifícios que isso comporta («Mane nobiscum Domine», 26 e 27)? 12. A imagem da Igreja-Família de Deus, dada pela «Ecclesia in Africa», ajudou-nos a ser testemunho da reconciliação, da justiça e da paz? De que modo a vossa Igreja particular pode, ao seu nível, dar esse testemunho? O que faz ela pela reconciliação, pela justiça e pela paz? 13. A Doutrina social da Igreja é suficientemente conhecida na vossa Igreja particular? Existem iniciativas para difundi-la e dá-la a conhecer? Quais iniciativas? Capítulo IV 14. Que resposta damos todos nós (bispos, sacerdotes, pessoas consagradas, leigos e instituições eclesiais de formação) ao apelo à santidade? 15. Existem na vossa Igreja particular Comissões «justiça e paz»? São eficazes? 16. Existem na vossa Igreja particular programas de formação? 17. Qual pode ser o contributo próprio dos bispos, das Conferências episcopais, dos sacerdotes, das pessoas consagradas, dos institutos religiosos, das universidades católicas, dos seminários maiores e dos catequistas, nestes temas da reconciliação, da justiça e da paz? 18. Qual é a responsabilidade específica dos leigos nos seguintes domínios: política, forças armadas, mundo da economia, educação da juventude, campo da saúde, família, grandes meios da cultura, mass-media, organismos internacionais e a nível de Igreja universal? 19. Na actual situação da África, que sentido têm para vós os apelos de Jesus: «vós sois o sal da terra…vós sois a luz do mundo»? 20. Qual é a situação actual na vossa Igreja particular (diocese e país) no que concerne: a) a saúde, a educação e as estruturas sociais; b) os direitos do homem e a democracia; c) as relações entre os diferentes grupos étnicos e religiosos? 21. Que pode fazer a vossa Igreja para melhorar o sistema escolar e sanitário, de modo a torná-los mais eficazes? Que pode ela fazer para melhorar a situação dos direitos do homem e promover a democracia? 23. Para preparar os cristãos à vida civil e política? 24. Perante as violências e ódios provocados pelas guerras, que iniciativas foram tomadas na vossa região? 25. Quais as causas profundas dessas violências e ódio e desses atentados aos direitos do homem? 26. Para fazer face a tais desafios, que colaborações são possíveis com as Igrejas dos outros Continentes, com os outros crentes do Continente Africano e com os adeptos dos novos grupos ou movimentos religiosos? 27. Que experiências positivas da vossa região nos domínios da reconciliação, da justiça e da paz, conviria dar a conhecer aos outros Continentes? 28. Que recursos encontrais nas culturas africanas para fazer frente a estes desafios: tensões étnicas e religiosas, corrupção, desprezo da vida, atentados perpetrados contra a dignidade da mulher, recrutamento de crianças para a luta armada, situação dos refugiados e dos migrantes, etc.? 29. Como avaliais a evangelização do Continente em termos quer da sua difusão quer da sua qualidade? Capítulo V 30. Como pensais promover, no vosso meio de vida, uma sólida cultura do trabalho assíduo e bem executado? 31. Na vossa região, existem outras questões ou experiências relativas à reconciliação, à justiça e à paz, que gostaríeis de tratar no Sínodo? Em geral 32. Que outros pontos importantes, relativos ao tema escolhido, mereceriam ser postos à atenção do Sínodo?

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