Advento: Tempo para olhar a «esperança não celebrada» e concretizar «gestos proféticos» num contexto de «mais guerras»

Padre Nuno Santos assinala força «simbólica» dos gestos a que o Papa Francisco convida, ao iniciar as celebrações jubilares numa prisão

 

Coimbra, 29 nov 2024 (Ecclesia) – O padre Nuno Santos, reitor do Seminário Maior de Coimbra, convida a reconhecer os sinais de esperança no início do Advento e a celebrar e os “gestos proféticos” que estão no mundo, que não se resumem ao tempo do Natal.

“Há muita esperança não celebrada e isso tem mais a ver com a incapacidade dos nossos olhos de ver esses sinais do que propriamente da ausência dos próprios sinais. O tempo de Natal, e não só, está cheio de sinais de esperança. Há muitos homens e mulheres que fazem do tempo um lugar de relação, um lugar de cuidado, um lugar de simpatia, de pormenor, de atenção”, assinala o reitor do Seminário Maior da diocese de Coimbra.

O responsável lamenta que o cristianismo tenha “adiado a esperança”.

“O maior problema do Cristianismo foi que, durante muitos anos, adiou a esperança, pôs a esperança só para depois da morte e eu diria que não nos interessa assim tanto uma esperança tão longínqua – não porque nós não acreditemos nessa esperança, mas porque essa esperança tem de ter um impacto no quotidiano, nos dias, todos os dias”, traduz.

A Igreja Católica assinala no próximo domingo o início de um novo ano no seu calendário litúrgico, que começa com o tempo do Advento, compreendendo os quatro domingos anteriores ao Natal, celebração onde os cristãos assinalam o nascimento de Jesus.

O padre Nuno Santos indica que a esperança está “sempre inacabada”.

“A esperança, e sobretudo a espera, ela está sempre inacabada. Para o Deus que chega, que vai chegando, precisamos de preparar cada vez mais o nosso coração para poder acolher cada vez melhor aquele que está permanentemente a chegar”, convida.

Foto Correio de Coimbra

O responsável explica ainda que a esperança nunca está desvinculada da realidade, e é exercida a partir da forma como cada pessoa se coloca no mundo.

“A esperança está exatamente na capacidade da relação, na capacidade de estabelecer pontos no meio das dificuldades. De onde é que vem o Natal? Vem de uma simplicidade tremenda, de uma pobreza extrema, de uma solidão enorme de uma mãe, de um pai, que vão ali, que batem a todas as portas e não têm lugar para eles, não há hospedaria, não há lugar. Aí é que nasce a esperança maior. Por isso, de algum modo, o Natal é uma enorme provocação a este ritmo, a este pensamento, a esta necessidade de termos muitas coisas para podermos viver a esperança”, sublinha.

O sacerdote da diocese de Coimbra lembra ainda o início do Jubileu 2025, que o Papa Francisco associou à esperança, e recorda que a abertura da porta santa, ato simbólico para iniciar o Ano Santo, vai acontecer na noite de 24 de dezembro, no Vaticano.

“Não há outra maneira de falar da esperança em termos cristãos, a não ser a necessidade de abrir as portas, desde logo, a do coração, para acolher aquele que é a fonte, que é Jesus”, indica.

O responsável faz ainda notar o contexto em que o Papa convoca o Jubileu da esperança: “No mundo onde nos encontramos – talvez dos tempos com mais guerras, pelo menos com a consciência delas – um tempo frágil, com muitas fragilidades políticas, sociais, um tempo em que pensávamos estar a sair de uma pandemia para entrarmos num tempo diferente de fraternidade e de atenção e de cuidado, e não nos apercebemos dessa melhoria – em alguns aspetos, antes, pelo contrário – num tempo com que nos sentimos ameaçados por as questões climáticas, sentimos a preocupação das questões sociais… É neste tempo que o Papa quer, de modo especial, celebrar um jubileu, e um jubileu que tem esta tónica da esperança”.

O padre Nuno Santos sublinha ainda o gesto de iniciar o Jubileu da Esperança – “onde na bula de proclamação o Papa reconhece que há uma esperança que nos habita e precisa ser reanimada” – num estabelecimento prisional.

“Isto é de uma força simbólica que eu acho que ainda não está escrita, não está ainda pensada, não está suficientemente rezada, mas que vai ter alcance, não tenho dúvidas nenhumas, e esta é a porta que vai fazer diferença”, indica.

A conversa com o padre Nuno Santos pode ser acompanhada no programa ECCLESIA, na Antena 1, sábado pelas 6h00.

LS/PR

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Agência ECCLESIA

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