A visita Ad limina. E depois?

Mudança do paradigma dominante, que acumula problemas e abre a crise, para um paradigma emergente, que deve responder aos problemas A comunhão é rota e meta, carta de navegação e termo da caminhada. Por isso, apenas quem ‘ensaia’ a comunhão, conhece-a por um saber de “experiência feito”, como “caminho (que) se faz caminhando”; senão, sabe-se de ouvido e não por ter estudado, como acontece às vezes. A comunhão é método e objecto para a Igreja, que “na doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo quanto ela é e quanto acredita” (DV 8). As palavras do Santo Padre, em resposta a um ver elaborado pelos bispos portugueses, apresentam um julgar com um olhar diferente para o mesmo. Este julgar pode dividir-se em três pontos: seleccionar as questões (crise), propor um núcleo duro (cinto de segurança), e apresentar uma escola (cátedra). A isto deve seguir-se um agir. Ao seleccionar as questões, que põem em crise o modelo de Igreja, refere o que devia ser prática corrente: o reconhecimento da possibilidade de errar numa “ecclesia semper reformanda”. Do peregrinar da Igreja em Portugal, “a confissão mais frequente … (é) a falta de participação na vida comunitária” e o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros, a função do clero e do laicado, a discussão sobre qual dos membros da comunidade seja o primeiro, a eficácia dos percursos de iniciação actuais com maré crescente de cristãos não praticantes. Estes elementos preparam uma mudança do paradigma dominante, que acumula problemas e abre a crise, para um paradigma emergente, que deve responder aos problemas e incluir elementos positivos, não desgastados, do anterior paradigma. O novo modelo é a eclesiologia da comunhão, na senda do Concílio, como rota certa a seguir, onde “todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos co-responsáveis pelo crescimento da Igreja”. Apontando os elementos essenciais do conceito cristão de ‘comunhão’ “com o Pai e seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1, 3), ajunta que no “inicio do ser cristão, (está) o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa [Jesus Cristo] que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus caritas est, 1), sendo a missão da Igreja falar primariamente de Deus e não de si. Daí, construir caminhos de comunhão, por onde ela passe e para onde se caminha, e que abrange a iniciação cristã da pessoa a ajudar “pela acção educativa das comunidades, a amadurecer cada vez mais até chegar a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso tempo» (Sacramentum caritatís, 18). A eclesiologia de comunhão envolve todos; do encontro com Jesus Cristo partem os caminhos de comunhão, onde cada um aprende a dar razão do seu caminhar, seguindo-O. A eclesiologia da comunhão olha Fátima como escola de fé, que tem a Virgem Maria por Mestra com cátedra “para ensinar aos pequenos Videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”. O aprender supõe a “atitude humilde de alunos que necessitam de aprender a lição” da (e com) “a Mestra tão insigne e Mãe do Cristo total (de) todos e cada um”: bispos e “os sacerdotes na condução do rebanho, os consagrados e consagradas que antecipam o Céu na terra e os fiéis leigos que moldam a terra à imagem do Céu”. Na escola de Maria, os homens tornam-se mais humanos e a Igreja aprende a dever-ser “esposa imaculada” (J. Ratzinger). Maria, da cátedra em Fátima como escola de fé, evoca a “atitude humilde de alunos que necessitam de aprender a lição” de “antecipar o Céu na Terra” e “moldar a terra à imagem do Céu”, como caminhos de comunhão, onde “todos serão ensinados por Deus”. O novo paradigma pode aprender-se com Maria; face às palavras do anjo, ela “…perturbou-se e inquiria de si…” (Lc 1, 29), mas “aquele encontro tinha mudado tudo”, e ela “era apenas um ponto nessa cadeia”. Maria, modelo de fé da igreja nascente, refere a atitude de alguém que se confronta com diversos aspectos para elaborar uma decisão na terra boa e fecunda do “coração”. Maria, ao dizer “não têm vinho” (Jo 2, 3), permite “passagem da economia antiga à economia nova”, do paradigma dominante ao paradigma emergente. Maria leva ao encontro com com Jesus de quem a Igreja (Corpo de Cristo) deve falar para se construirem caminhos de comunhão, em que cada um é “capaz de dar razão da esperança”. M. M. Costa Santos (UCP-Braga)

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