A paz verdadeira exige o respeito dos direitos humanos

Acaba de ser divulgada a Mensagem que o Papa Bento XVI dirige ao Mundo por ocasião do dia mundial pela Paz que, uma vez mais, se celebrará no próximo dia 1 de Janeiro. De entre os temas focados, o Papa adverte contra as visões redutoras do ser humano que, em seu entender, estão na origem do enfraquecimento do alcance dos direitos humanos consagrados pela Declaração Universal assinada em 1948 e, indirectamente, atentam contra a paz. Uma observação sucinta do panorama mundial traz-nos motivos sérios para nos preocuparmos com a construção da paz. No ano que está a terminar, o mundo assistiu, com algum estremecimento, a múltiplos e graves atropelos ao respeito e cumprimento de direitos humanos fundamentais. É a guerra no Iraque que continua sem fim à vista e que, quase diariamente, vem somando novas vítimas, muitas delas vítimas civis apanhadas nos mercados, nas escolas ou outros espaços públicos, ao acaso de atentados levados a cabo por diferentes facções políticas ou, mesmo, como consequência de perseguições por parte de forças militares ou policiais. Foi o combate sangrento, que ocorreu no sul do Líbano, e deixou atrás de si um rasto de destruição e milhares de desalojados, sem falar nas pessoas que perderam a vida nesse conflito. É o desrespeito das mais elementares normas de relação com os prisioneiros e as situações de humilhação e tortura perpetradas por quem detém a responsabilidade de os guardar. Há o povo martirizado da faixa de Gaza, palestinianos e israelitas, com vidas sempre em sobressalto e vivendo em permanente situação de risco. Nem as crianças têm sido poupadas, por isso o Papa as menciona, explicitamente, no endereço da sua mensagem. Um olhar atento sobre o que se passa no Mundo leva-nos a admitir que se estão acumulando tensões sociais, económicas, civilizacionais e políticas, parecendo que se caminha, perigosamente, em sentido inverso ao da construção da paz. A recente crise nas relações com o Irão, que persiste em prosseguir com o seu programa nuclear à revelia das Nações Unidas, é, apenas, um, entre muitos, dos sinais da debilidade em fazer cumprir as resoluções tomadas nas instâncias internacionais. As manifestações de terrorismo a que temos assistido constituem, por seu turno, um sinal de alerta relativamente à ameaça que pesa sobre os níveis de segurança desejáveis. Não é apenas nas zonas de conflito que os direitos humanos são espezinhados. Recordá-lo neste dia mundial pela Paz é um dever a que devemos dar toda a nossa atenção. Se queremos construir uma paz justa, verdadeira e duradoura, temos de superar as causas que se lhe opõem, para, assim, construir a “árvore da paz”. Não estará ao nosso alcance imediato acabar com os conflitos, pôr termo ao terrorismo, impedir que os prisioneiros sejam maltratados, mas podemos agir, ao nosso nível, para que sejam mais respeitados os direitos humanos do nosso próximo, reduzir as desigualdades de rendimentos e oportunidades, combater a exclusão social, reconhecer o valor de outras culturas e civilizações, promover a tolerância e o diálogo inter-religioso. Outras tantas veredas para construir a paz. Esta mensagem do papa Bento XVI vem encorajar-nos a que devemos continuar a afirmar os direitos da pessoa humana, fundamentá-los em bases sólidas, torná-los matéria de actualidade e exigir que figurem nas agendas políticas e mediáticas. Lembra-nos, também, que não podemos distrair-nos de os fazer valer no nosso quotidiano, através do cumprimento escrupuloso dos nossos deveres para com a Humanidade de que somos parte indissociável. Manuela Silva Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz

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