A paixão de Jesus nas artes

No início da Idade Média o teatro e as artes plásticas, ao interpretar as narrativas da paixão do Senhor, começaram a dar imagem ao sofrimento e à morte de Jesus, como suportes privilegiados para a catequese, para as festas litúrgicas e para práticas devocionais como a Via Sacra. A pintora Emília Nadal lembra que as iconografias do Ecce Homo, do Senhor da Cana Verde e do Senhor da Paciência, ao evocar a flagelação de Jesus, corres-pondiam a espiritualidades centradas na meditação dos sofrimentos do Senhor, e que igualmente enalteciam o valor do sofrimento como caminho de salvação, convidando os fiéis à identificação com Cristo na aceitação das injustiças deste mundo. Estas iconografias foram interpretadas nas artes eruditas e populares ao longo dos séculos e são ainda alvo privilegiado de culto. Os Cristos impassíveis da arte da Renascença contrastaram com os Cristos sofredores do gótico anterior e do barroco posterior. Mas nenhuma realização artística conseguiu suplantar a violência e o dramatismo do Cristo crucificado e retorcido de dor, crivado de espinhos e de sangue, pintado por Mathias Grünewald, no século XVI, na Alemanha. O Concílio de Trento, proibiu os exageros expressivos nas imagens e a representação da Virgem Maria desmaiada de dor, junto à cruz. Porém, a pintura devocional, geralmente encomendada pelas comunidades religiosas, explorou as imagens dos sofrimentos físicos de Jesus, as quais eram explicitamente associadas aos pecados individuais e colectivos. No Cinema, coube a Mel Gibson dar uma visão da vida de Jesus particularmente centrada no sofrimento, com o seu filme “A Paixão de Cristo”. A obra retrata as últimas 12 horas da vida de Jesus e é falada apenas em latim e aramaico, como forma de permanecer fiel ao guião evangélico, de onde o australiano retira ainda outro dado nunca antes tratado como agora: a violência do sofrimento infligido a Jesus. “A Paixão de Cristo” apresenta uma narração que nem sempre segue à risca o texto dos Evangelhos, mas não é a incerteza do desfecho a prender os espectadores à cadeira, antes a intensidade das imagens e dos sons.

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