A minha sorte

Inês Teotónio Pereira

A pobreza aumentou, as desigualdades denunciaram-se e afundaram-se e o elevador social da educação parou e avariou-se. E ninguém quer saber. Ninguém que possa concertá-lo quer saber. E é assim que começam os conflitos sociais.

Quando me perguntam com curiosidade como vivi o confinamento com seis filhos em casa, tento sempre corresponder às expectativas e, com o ar pesaroso, digo: “cá se passou…”, acompanhado com um ligeiro encolher de ombro tentando exprimir resignação. Como quem diz, sobrevivemos. Mas é mentira.

Estávamos a jantar quando os mais velhos receberam emails das faculdades a informar que no dia seguinte não teriam mais aulas. Na semana seguinte seriam os mais novos. Em poucos dias montámos a logística. As aulas seriam online e no mesmo horário de sempre, era preciso arranjar computadores ou tablets ou qualquer outra engenhoca para cada um. Encomendei mercearias para mais de um mês, assim como carne e peixe, reforcei os produtos de limpeza assim como o sinal do wi-fi e certifiquei-me de que tinha os canais todos.

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