A imigração ucraniana em Portugal

D. Dionísio Lachovicz, responsável pela Pastoral dos Ucranianos no Exterior Há poucos anos atrás o fluxo de imigrantes ucranianos a Portugal não merecia muita atenção. O número começou a crescer a partir do ano 2000. Hoje, segundo as estimativas oficiais, o número de ucranianos legais deveria ultrapassar a cifra de 70 mil pessoas, constituindo-se como o segundo maior grupo de imigrantes, depois dos brasileiros. No entanto, é difícil dizer a soma exacta de ucranianos presentes em Portugal. Para alguns, o número poderia ultrapassar os 300 mil. Estão espalhados por todo o território português. Aos ucranianos somam-se também outros grupos do Leste europeu: moldavos, russos, romenos, búlgaros. Os imigrantes do Leste europeu foram atraídos a Portugal para a construção civil, aliciados por agências de viagens e redes transportadoras para fins de trabalho ilegal e informal. Como regra geral, os imigrantes ucranianos caracterizam-se pelo alto grau de escolaridade e qualificação académica. Trouxeram consigo um rico património cultural e religioso. Os ucranianos fazem parte da tradição da Igrejas do Oriente, com ritos próprios nas celebrações litúrgicas. Vem a ser o “segundo pulmão” pela qual respira a Igreja de Cristo — no dizer do Papa João Paulo II. A Portugal chegou um grande contingente de Greco-Católicos, provenientes sobretudo da Ucrânia Ocidental, mas também está presente um número significativo de cristãos ortodoxos dos três grandes ramos existentes na Ucrânia: Patriarcado de Moscovo, Patriarcado de Kiev e Autocéfalos, todos eles herdeiros do património comum às Igrejas orientais. É considerável também o número de imigrantes descristianizados, devido ao regime ateu militante do antigo sistema soviético, que, mesmo assim, não conseguiu apagar a subconsciência religiosa (significativa é a expressão: “sou um ateu de religião ortodoxa” – Lukashenko). Muitos emigrantes vêm a descobrir a fé fora do pais de origem. A Igreja Católica de Portugal respondeu com meios adequados a esse novo sinal dos tempos. A solidariedade cristã, o apoio humanitário aos imigrantes, a ajuda na integração na nova sociedade é uma constante. O Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo, dirige uma carta ao Cardeal Lubomyr Husar pedindo assistência religiosa aos ucranianos. No dia 7 de Janeiro de 2001 (Natal segundo o calendário juliano), Pe. Dionísio Lachovicz, então superior geral dos Padres Basilianos, celebra a primeira missa aos imigrantes ucranianos na cidade de Alcanena, e providencia a chegada dos padres basilianos para a pastoral dos imigrantes católicos orientais na diocese de Lisboa. Em Fevereiro de 2001 chega o primeiro missionário basiliano. A mesma acolhida prestam também as dioceses de Leiria-Fátima, Algarve, Évora e Beja. Hoje 7 sacerdotes greco-católicos prestam assistência pastoral aos ucranianos. A imigração do Leste europeu trouxe uma experiência eclesial e canónica própria dos Ritos das Igrejas orientais. Os novos imigrantes caracterizam-se não somente por uma língua diferente, como também por uma cultura específica, indissoluvelmente ligada à Tradição das Igrejas orientais. Trata-se de uma efectiva identidade cultural e litúrgica, que os diferencia de outros imigrantes que pertencem ao Rito Latino. Essa identidade peculiar exige uma adequada cura pastoral, que, segundo directrizes do Magistério da Igreja Católica, os preserva da absorção pura e simples no Rito Romano e nas suas relativas estruturas. E por outro lado, os imigrantes Greco-Católicos ucranianos não podem ser confundidos simplesmente com os irmãos Ortodoxos. Outra característica da Tradição das Igrejas Orientais. Ela admite o sacerdócio casado. A grande maioria dos sacerdotes nas Igrejas orientais contraem matrimónio antes de serem ordenados. Também essa diferença poderá constituir um problema, como também poderá ser uma riqueza comum dada pela providência divina. Essas diferenças não impedem a inserção positiva e fecunda dos ucranianos nas comunidades locais, seja eclesiais ou civis, tendo em vista sobretudo a perspectiva de uma longa permanência ou mesmo uma estabilidade definitiva. Tudo na óptica da integração do diferente, mas sem a absorção ou assimilação dos ritos orientais.

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