A cruz escondida

Bispo de La Guaira pede ajuda para o povo que sofre na Venezuela

“Não nos abandonem!”

É quase um pedido de socorro. D. Raul Biord, Bispo de La Guaira, não se cansa de chamar a atenção do mundo para a situação catastrófica que se vive na Venezuela. O país está à beira da ruptura e a Igreja tenta, como pode, auxiliar as populações mais necessitadas. Mas a crise agrava-se e o número de pobres não pára de aumentar…

Um dos mais recentes relatórios sobre a Venezuela, publicado no dia 5 de Outubro pela Universidade Católica Andrés Bello, em Caracas, revela uma realidade assustadora. Três em cada quatro venezuelanos vivem já numa situação de “extrema pobreza”. Isto significa que têm apenas um euro por dia para sobreviver. A hiperinflacção, provavelmente a maior do planeta, agrava ainda mais a fragilidade em que se encontram largas camadas da população. A situação é dramática e a Igreja transformou-se cada vez mais no pronto-socorro dos que mais sofrem, dos mais pobres dos pobres. D. Raul Biord, Bispo de La Guaira, esteve na sede internacional da Fundação AIS, em Königstein, na Alemanha, e descreveu um país à beira da ruptura. Sinal do desespero em que se encontram cada vez mais famílias é o número dos que tentam a sua sorte fora de portas. O Bispo diz que são já cerca de sete milhões. “É a maior migração da história moderna do país.” É um sinal do fracasso em que se transformou a Venezuela. “A vida de todos os migrantes é sempre difícil e dolorosa. As pessoas não saem do seu país porque querem; fazem-no para fugir da fome, da violência, da guerra, da falta de condições de vida, da perda de expectativas de futuro…” D. Raul fala de uma Igreja de mangas arregaçadas pronta a ajudar, a minimizar o sofrimento dos que estão de mãos vazias e tantas vezes já sem esperança. Nas suas palavras esconde-se o retrato de um país em naufrágio e percebe-se a impotência de quem está no meio de um furacão social mas que não desiste. D. Raul é um lutador. Já esteve em Portugal, em 2017, durante a peregrinação internacional da Fundação AIS a Fátima. De então para cá, a situação apenas se agravou.

 

Salvar vidas

A Igreja procura acudir como pode. Não há tempo a perder, todos estão mobilizados nesta gigantesca tarefa de salvar vidas, de dar esperança, de estender a mão aos que precisam mais de ajuda. “Há também muitas sopas dos pobres em muitos lugares, paróquias, centros de saúde [da Igreja], onde milhares de voluntários ajudam os mais vulneráveis todos os dias. Uma das tarefas mais importantes é manter a esperança viva, como fez a Virgem Maria no sopé da Cruz. Sabemos que o bom Senhor não pode abandonar-nos na nossa hora de necessidade, que Ele está aqui, e que Ele não nos deixará sozinhos.” O trabalho que a Igreja tem vindo a desenvolver é notável. Talvez isso ajude a explicar que, apesar da crise, apesar do futuro cada vez mais sombrio que se avizinha, são também cada vez mais os jovens que vão bater à porta dos seminários, dispostos a engrossar as fileiras da Igreja, deste verdadeiro batalhão de construtores de paz. “No meio de tanto sofrimento, novas vocações sacerdotais floresceram, como um dom de Deus. Muitos jovens estão a responder positivamente ao apelo de Deus para serem pescadores de homens e semeadores de esperança. No seminário da minha diocese – diz D. Raul – este ano há 56 seminaristas de várias dioceses, especialmente da província de Caracas.” O futuro revela-se ingrato. Não há sinais de que a tempestade vá abrandar. Também por isso, o Bispo de La Guaira pede ajuda através da Fundação AIS. E preciso que o mundo não se esqueça da Venezuela. “Não nos abandonem”, diz o prelado. “Que através de orações e assistência, se lembrem daqueles que mais sofrem, e ajudem os pobres a satisfazer as suas necessidades materiais, como a alimentação, saúde, educação, formação profissional, bem como as suas necessidades espirituais…”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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