Migrações: Saída crescente de portugueses «põe a nu» a realidade do país

Num tema que “deixou de ser tabu”, sociedade precisa de saber qual o pensamento da Igreja sobre a mobilidade humana

Fátima, Santarém, 11 jan 2013 (Ecclesia) – O padre Rui Pedro, especialista no trabalho com comunidades migrantes, considera que Portugal mostrou um país falso durante a década de 90, atraindo muitos imigrantes enquanto o interior estava em crescente desertificação.

Ao apresentar o tema “Direito a e a não emigrar”, em debate no Encontro Agentes Sócio-pastorais das Migrações, que decorre até este domingo em Fátima, o sacerdote católico referiu que é necessário conhecer as causas das migrações, questionando não apenas o que leva muitos portugueses emigrarem, mas também as razões que motivaram a chegada a Portugal de muitos ucranianos e brasileiros, por exemplo.

Para o padre Rui Pedro, com a ‘Expo 98’ Portugal mostrou-se ao mundo como um “um país em construção, a fazer autoestradas, fazer uma nova ponte, a construir estádios, um país em grande progresso e modernização”, o que não correspondia ao “país real”.

O missionário scalabriniano – congregação religiosa que tem por missão a pastoral com os migrantes – sustenta que o país real está “na desertificação do interior”, no “êxodo para o litoral” e consequente concentração urbana, de onde agora partem também portugueses para a emigração.

Nos períodos em que recebia muitos imigrantes, Portugal “distraiu-se” e não se apercebeu da saída contínua de muitos cidadãos para a emigração, refere.

“Não esqueçamos que por cada imigrante que está em Portugal há 10 emigrantes portugueses lá fora”, recordou o padre Rui Pedro.

Perante do crescimento da emigração, o religioso defende que é necessário “voltar a pensar nas questões ligadas às causas da emigração”, como acontecia nas décadas de 70 e 80 após Portugal ter conhecido um grande êxodo de trabalhadores e suas famílias.

O padre Rui Pedro, diretor da Obra Católica Portuguesa das Migrações entre o ano 2000 e 2007, considera que tanto as estruturas governamentais como as da Igreja Católica devem investir no conhecimento do crescente fenómeno da emigração, como aconteceu com a sensibilização para o acolhimento dos imigrantes nos últimos 15 anos.

Neste âmbito, lamentou o facto de não existir um “documento de referência” com o “pensamento da Conferência Episcopal Portuguesa sobre as migrações”, referindo também que a Igreja Católica em Portugal sempre foi “mais prática do que reflexiva” neste setor, como o mostram muitas estruturas de apoio aos migrantes.

O responsável defendeu a necessidade de ser feito um “plano pastoral das migrações”, ultrapassando algumas resistências a um tema “fraturante e muito difícil” porque as organizações e os emigrantes “querem saber qual o pensamento da Igreja” sobre esta problemática.

O Encontro de Agentes Sócio-pastorais das Migrações, promovido pela Obra Católica Portuguesa de Migrações em parceria com a Cáritas Portuguesa e a Agência ECCLESIA, comemora em Portugal o 99.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que a Igreja Católica assinala este domingo.

Na mensagem que escreveu para este dia, Bento XVI afirma que “antes do direito a emigrar há que reafirmar o direito a não emigrar, isto é, a ter condições para permanecer na própria terra”.

PR/OC

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