Portugal: «Laicismo, secularização e relativismo» estão a ganhar terreno à «fé em Deus», diz porta-voz do episcopado

Padre Manuel Morujão comentou resultados dos Censos 2011; 81% da população residente com 15 ou mais anos declara-se católica

Lisboa, 22 nov 2012 (Ecclesia) – O “laicismo, secularização e relativismo têm conquistado terreno à vivência da fé em Deus” e ao “cultivo de valores que marcam bem a fronteira entre o bem e o mal”, considera o porta-voz do episcopado católico português.

Convidado hoje pela Agência ECCLESIA a comentar os resultados dos Censos 2011 relativos à religião, em que 81% da população residente com 15 ou mais anos se declara católica, o padre Manuel Morujão diz que estava à espera de um número mais baixo, “devido aos ventos que têm soprado em direção contrária ao rumo da nave da Igreja”.

O sacerdote nota na entrevista escrita que Portugal continua a ser, “sem dúvida”, um país maioritariamente católico, mas sublinha que aquele indicador revela “a quantidade” das pessoas que expressam a sua adesão ao catolicismo “e não propriamente a sua qualidade”.

“Estar fisicamente presente num ato de culto é certamente mais significativo que, segundo as convicções pessoais, declarar-se católico”, refere ao pronunciar-se sobre a diferença entre os Censos e os dados do último recenseamento da prática dominical realizado simultaneamente no continente, em 2001, que apontava para cerca de dois milhões de “praticantes” e um milhão de “comungantes”.

“Penso que este desnível se verifica em todas as instituições. Por exemplo, há pessoas que se declaram convictamente benfiquistas, sportinguistas ou portistas e não são sócios, não pagam quotas, nem vão aos estádios. Diria o mesmo sobre os partidos, sindicatos e múltiplas outras associações. Claro que as ações de evangelização devem promover a coerência prática entre acre1,ditar e praticar”, observa.

O também secretário da Conferência Episcopal Portuguesa classifica de “interessante” o facto de “a segunda maior força religiosa em Portugal” ser constituída por “crentes sem religião” (6,8%).

O responsável explica a diminuição em quatro pontos percentuais de católicos relativamente ao penúltimo Censos, realizado em 2001, com “a erosão que sobretudo as famílias têm sofrido”: “Hoje os pais têm significativa dificuldade em transmitir os seus valores aos filhos, a todos os níveis, particularmente os valores da fé e prática religiosa”.

O padre Manuel Morujão salienta que os responsáveis católicos têm vindo a analisar os resultados do estudo “sobre as ‘atitudes e representações da sociedade portuguesa face à Igreja’”, promovido pelo episcopado e realizado pela Universidade Católica em 2011.

O inquérito, cujos resultados foram anunciados em abril e novembro, respetivamente para Portugal continental e ilhas, “foi um grande investimento que importa rentabilizar”, frisa o porta-voz, que destaca a “prática coincidência” dos dados com os números apurados pelo Instituto Nacional de Estatística.

De acordo com os resultados do Censos, 0,8% dos inquiridos dizem-se protestantes, 0,6% são ortodoxos e 1,8% declaram uma pertença cristã diferente das anteriores.

A religião muçulmana recolhe 0,3% das respostas, a judaica 0,03% e outras não cristãs ascendem aos 0,3%, enquanto que a percentagem da população com 15 ou mais anos que não respondeu é de 8,2%.

RJM

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