Politicamente incorrecto

Há milhares e milhares de pessoas a quem sobram razões de queixa (…) cuja solução não se encontra apenas nas respostas do mercado ou da política

Periodicamente alguém se encarrega de nos dar a conhecer o ânimo dos consumidores. Infelizmente, os tempos têm sido parcos em boas notícias: mesmo que uma ou outra lança de sol apareça, a verdade é que há um nevoeiro que não se dissipa, sendo muitos os que acreditam e proclamam que “o pior ainda está para vir”.

Há, de facto, milhares e milhares de pessoas a quem sobram razões de queixa, sendo obrigatório ouvir e ampliar a sua voz; responder aos seus apelos e minimizar os seus dramas, cuja solução não se encontra apenas nas respostas do mercado ou da política.

Mas ao lado destes – e vou ser politicamente incorreto — não é despiciendo o número dos que hoje acham ser de bom tom lamuriar-se, mesmo que, no seu caso pessoal, esteja apenas em causa uma qualquer guloseima e não a refeição principal… Convenhamos, porém, que uma coisa é chorar por ter fome e outra, muito diferente, apenas não gostar do que se tem no prato! Estes lamentam-se para as tvs, rádios ou jornais nas estações de serviço onde atestam para um fim de semana extramuros, ou na fila dos gelados da moda, ou enquanto emborcam bebidas sociais em sítios in. Ora, se respeito quem vive em crise, custa-me aceitar que alguém viva da crise — seja fazendo vítimas, seja fazendo-se de vítima…

Na rua que desço, ao fim do dia, para a fila do transporte público, oiço pedidos de pessoas claramente necessitadas e cuja situação não consente cegueira ou surdez; ao lado de outras que optaram por um estilo de vida que, aparentemente, pretendem subsidiado, ao menos pelo cidadão passante…

Confesso a minha dificuldade em lidar com estes últimos casos. Sobretudo quando a abordagem é insistentemente agressiva e faz com que, eventualmente, venha a pagar o justo pelo pecador.

Sei que “quando damos aos pobres as coisas indispensáveis (…) apenas lhes devolvemos o que é deles”. Mas isto nada tem a ver com uma generosidade que não educa nem exige, mais parecendo consequência de uma espécie de complexo de culpa. E para esse peditório não dou….

João Aguiar Campos

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