Homilia na tomada de Posse do Núcleo de Braga dos Médicos Católicos

D. Jorge Ortiga

O profeta Isaías apresenta-nos na primeira leitura a imagem de uma cidade bem murada. Uma cidade com um povo justo e fiel, com coração firme, que confia absolutamente em Deus. O profeta exorta os seus coetâneos a “confiar sempre no Senhor, porque o Senhor é a nossa fortaleza eterna”.

Mas nem sempre o homem tem correspondido a este grito do profeta. A fé na sua raiz significa confiança, relação, experiência íntima com o invisível. A fé estabelece a relação do homem com Deus ao qual se dá crédito na medida em que Ele nos acredita em Cristo e nós O acreditamos mediante o testemunho eloquente das nossas palavras e actos.

A sede do Deus vivo reflecte-se quotidianamente na sede de uma vida bela e feliz por parte dum grande número de pessoas da nossa sociedade. Cristo, o Bom Pastor, transparência do amor de Deus, que vai ao encontro de todos e de cada um com paixão, passou na terra fazendo o bem, pois Ele “não passa adiante, mas “compadece-se, aproxima-se… liga as feridas… e cuida” (Lc 10, 32-34) de todas as pessoas. O exercício desta hospitalidade cristã torna a nossa vida lugares de beleza na medida em que nos abrimos amorosamente ao órfão, à viúva, ao estrangeiro, ao peregrino, ao perdido e ao marginalizado da vida social.

Deus vem ao nosso encontro para ser acreditado e dá-nos maravilhosamente os dons com que havemos de participar no seu acto criativo. Fazer coincidir a nossa vida com Cristo, o Bom Pastor, deve responsabilizar-nos diariamente na concretização da “presença irradiante do Evangelho” na vida das pessoas e nos mais diversos ambientes sociais.

É nesse sentido que damos posse aos novos membros directivos do núcleo de Braga dos Médicos Católicos. Ao tocardes nos limites da vida humana colocais-vos na linha da frente na humanização de todas as situações que se revelem inumanas aos olhos do Evangelho. Não é suficiente pôr os coxos andar, os cegos a ver, os mudos a ouvir, é preciso transmitir a “força da renovação e alegria de Cristo ressuscitado”, que impede de sucumbirmos às debilidades e fragilidades psicossomáticas do Homem de hoje.

Por isso, “médicos, enfermeiros, operadores de saúde, voluntários são chamados a tornar-se a imagem viva de Cristo e da sua Igreja no amor para com os doentes e os que sofrem” (Carta Apostólica Salvifici doloris). Sem dúvida que exerceis um autêntico ministério laical porque a vossa fé e acção “exprime que se pode gerar vida nova no serviço aos outros” (Henri J. M. Nouwen, O curador ferido, 93).

O Evangelho, narração da vida e da Boa-nova de Jesus Cristo, é a “receita” para prevenir a simples acção filantrópica. Reencontrar o “estilo do bom Samaritano” em cada acto da vida é o maior desafio que podemos desejar alcançar, pois d’Ele brota o imenso amor de Deus por cada um dos seus filhos.

Este Acto Solene incumbe-vos a missão de serdes sinal de esperança e testemunhas da alegria de Cristo. Congregai outros profissionais de medicina que desejam exercer a sua profissão à luz dos princípios evangélicos. Desenvolvei uma ampla difusão à luz da fé cristã dos princípios orientadores das actividades ligadas à saúde, analisando todas as variantes que interligam positivamente a investigação medicamente e a fé cristã. Tornai presente a Igreja nos sítios onde a vida é débil e precária para que em cada rosto ressurja uma nova aurora resplandecente.

A Igreja de Braga agradece-vos o ministério de levar a Boa-nova de Cristo às pessoas doentes ou em situações de risco. A vossa acção discreta, humilde e profunda, multiplicará os gestos humanos de fraternidade e converterá os corações altaneiros daqueles que vivem segundo os ditames do orgulho e da sobranceria social. Muitos outros médicos se associarão e assim conseguiremos testemunhar que a Palavra de Deus faz sentido e dá qualidade de vida a todos os que se deixam plasmar pelo fogo ardente de Cristo Salvador. Plasmar sim porque, como dizia Abel Salazar, “O médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe”.

Por intercessão de S. Rafael («Deus cura»), patrono da medicina, elevemos as nossas preces até Deus na feliz esperança de acolhermos e anunciarmos o nascimento do Verbo de Deus na hospitalidade humana.

Sé de Braga, 02-12-10

† Jorge Ortiga, A.P.

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