Cinema: «O Rapaz do Pijama às Riscas»

Doze anos depois de “A Vida É Bela”, “O Rapaz do Pijama às Riscas” traz-nos de volta uma leitura da infância em contexto de guerra. Um filme que cai na agenda cinematográfica arriscando passar despercebido entre os ofuscantes concorrentes aos Óscars, mas que não promete arrecadar uma simpatia nem mesmo uma comoção consensual entre o público menos permeável à cinematografia sonante. Baseado no romance de John Boyne, esta é a história do filho de um oficial nazi que, mudando-se com a família para a residência oficial do campo de concentração que o pai dirige, acaba por observar o que se passa à distância, para lá do arame farpado. No entendimento que os tenros oito anos de idade lhe permitem, ali há uma quinta onde estranhos lavradores trabalham de pijama às riscas, alguns optando, surpreendentemente, por abdicar de carreiras como a de médico para se dedicarem a descascar batatas. Uma leitura que ninguém terá coragem de desmentir e que o impele não só a criar amizade com outra criança prisioneira como a passar para lá do arame… Nem totalmente descabida nem inteiramente lícita, a comparação entre este e o filme de Begnini presta-se pelo facto de, objectivamente, ambos retratarem distorções da realidade (uma criada por um adulto, outra consentida por vários) e subjectivamente, nos poderem conduzir a inúmeros caminhos de debate, com lugar à razão, à sensibilidade, à moral, à história, ao direito, à pedagogia, ao bom senso e ao senso comum. Uns consideram a história de mau gosto, outros de uma pertinência intemporal. Quase todos se sentem incomodados. Vale a pena o filme e o incómodo se formos capazes de passar além do choque dos momentos mais dramáticos do filme e nos impelirmos a desacomodar a nossa teoria e a nossa prática sobre questões como o entendimento humano, social, moral e, sobretudo, sobre a possibilidade de passarmos nós próprios – ou, para melhor correspondência – os nossos filhos, para lá das vedações que construímos. Seríamos sacrificados pelas imposições que estipulamos ao lado de lá?…

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Agência ECCLESIA

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