Publicações: «A religião ensina-nos que é possível vencer a morte, a disposição humorística ensina-nos que já perdemos» – Ricardo Araújo Pereira

Livro «O que é que eu estou aqui a fazer?» foi apresentado na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 11 dez 2024 (Ecclesia) – ‘O que é que eu estou aqui a fazer?’, é um livro que é fruto de uma conversa do jornalista João Francisco Gomes com Ricardo Araújo Pereira, para o humorista assumidamente ateu essa procura é que, “se calhar”, o “aproxima dos crentes”.

“Em princípio há uma salvação, há uma promessa de salvação, a Boa Nova significa isso, significa que há uma vida depois desta, que a morte não é morte. A minha resposta, como sou ateu e tenho a profissão que tenho, se calhar a minha resposta tem mais a ver com o riso, eu acho que o riso e a religião são dois tipos de resposta à mesma pergunta”, disse Ricardo Araújo Pereira aos jornalistas, esta terça-feira, na apresentação deste novo livro, em Lisboa.

Ricardo Araújo Pereira não considera que os crentes têm a vida facilitada, percebe que “também é doloroso ser crente”, e recordou a sua avó, que “era crente”, com quem “convivia muito de perto”.

“Temos todas as mesmas perguntas e se calhar divergimos na resposta, ou supondo que eu tenha uma resposta, eu até duvidaria disso, acho que os crentes têm, ou pelo menos têm uma suspeita forte de que têm, uma resposta, e eu não tenho. Ao menos estivemos entretidos à procura dela”, desenvolveu, admitindo que a sua resposta “seja mais insatisfatória”.

O livro ‘O que é que eu estou aqui a fazer?’ foi apresentado na Livraria da Universidade Católica Portuguesa (UCP), o capelão da instituição concorda que ter fé “não resulta numa facilidade, pelo contrário”, porque a experiência da fé é de quem quer “olhar para a sua vida com profundidade”, o que “não é fácil em circunstância nenhuma”.

“Nós vamos sofrer o mesmo que as pessoas que não têm fé, vamos atravessar os desafios iguais ou semelhantes, e a experiência da fé até, de alguma maneira, traz-nos outro problema, que é como é que eu encaixo Deus bom, verdadeiro, potente, todo-poderoso, no meio desta dificuldade que, às vezes, a vida traz”, explicou o padre Miguel Cabedo e Vasconcelos, à Agência ECCLESIA.

Ricardo Araújo Pereira considera que o riso fornece “uma espécie de anestesia temporária, às vezes, muito temporária”, e não acredita que faça mais do que isso, “é um remédio muito precário”, o único ao seu alcance.

“Eu acho que, por exemplo, a religião ensina-nos que é possível vencer a morte. E que a disposição humorística ensina-nos que já perdemos, e há um certo consolo nisso de já ter perdido. Já está perdido e é para a desgraça, e há qualquer coisa de atraente nessa ideia”, acrescentou o escritor e humorista.

O jornalista João Francisco Gomes, com 28 anos de idade, salienta que faz parte da geração que cresceu “a ver ‘Os Gatos de Fedorento’, e, ao longo dos anos, foi-se cruzando “com um certo pensamento teológico e religioso do Ricardo Araújo Pereira” e a “assumir-se frontalmente com o ateu”.

“Conhecia muito bem a Bíblia, tinha estudado muito bem a religião, interessava-se muito pelas questões existenciais, sobretudo pela aquela interseção entre o humor e a teologia, entre Deus e a comédia, e pensei que talvez valesse a pena desafiá-lo para uma conversa em que pudéssemos aprofundar esses temas”, explicou à Agência ECCLESIA.

O jornalista salienta ainda que Ricardo Araújo Pereira “não é um ateu” que tem uma atitude, “uma certa sobranceria relativamente à religião e à fé”, não acredita em Deus, mas, “ao mesmo tempo, tem uma postura de muito respeito pela fé e muito interesse por conhecer a fé”, e, no mundo atual, “muito polarizado”, conversar com uma pessoa que é “tão unânime” e falar sobre “as questões existenciais que são transversais a toda a humanidade”, permite chegar um público muito mais vasto “estas preocupações, estas inquietações”.

O livro ‘O que é que eu estou aqui a fazer?’, da editora ‘Tinta-da-China’, aborda várias temáticas – Deus, Fé, Humor e Morte -, e tem prefácio escrito pelo cardeal português D. José Tolentino Mendonça.

Para o Ricardo Araújo Pereira, este livro é “uma espécie de introdução ao estudo” para quem tiver interesse nessas questões, o humorista observa que este debate não é novo, “nem esta inquietação”.

“A ideia de tentarmos perceber o que é que significa estarmos vivos não é nova e também o debate entre a questão de saber se Deus existe ou não, os argumentos a favor e contra também não são”, acrescentou o humorista português.

O jornalista João Francisco Gomes salienta que o título do livro “é uma pergunta que talvez todos” já tenham feito em algum momento da vida, e explica que lança “um desafio” a todas as religiões organizadas para que consigam perceber “que perguntas é que estão a ser feitas no mundo contemporâneo”.

HM/CB/OC

Morte: «O riso é uma forma de lidar com o luto» – Ricardo Araújo Pereira (c/vídeo)

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