Moçambique: Missionários alertam para «grande destruição» de novos ataques terroristas em Cabo Delgado

«O povo está novamente em fuga», lamentou frei Boaventura, do Instituto da Fraternidade dos Pobres de Jesus

Foto Fundação AIS

Lisboa, 06 dez 2024 (Ecclesia) – Vários missionários alertaram, através da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que, na região moçambicana de Cabo Delgado, os grupos armados estão novamente ativos e atacaram várias aldeias, “com muita destruição e muita gente em fuga”.

“Houve ataques em várias aldeias no posto administrativo de Mazeze, queimaram casas, queimaram a escolinha, fizeram uma grande destruição. O povo está novamente em fuga, saindo do distrito de Mazeze e das aldeias ao redor para o distrito de Chiúre”, disse frei Boaventura, missionário do Instituto da Fraternidade dos Pobres de Jesus, à AIS.

Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA pela fundação pontifícia, uma missionária leiga adianta que existiram “dois grandes ataques” onde “contabilizaram 21 mortos na aldeia de Nacuale, no distrito de Ancuabe, e um em Magaia”.

Em Cabo Delgado,  província do nordeste de Moçambique, vive-se “um drama humanitário que atinge a todos, não apenas os cristãos”, adiantando que circula a informação que “houve num grande recrutamento” de terroristas nos últimos tempos, realçou a missionária.

“Em Cabo Delgado continua a travar-se uma guerra terrorista. São semeadas destruições e mortes violentas, a continuação deste desumano sofrimento é inaceitável e frustra o sonho de sermos uma nação de paz, concórdia e independente, justa e solidária”, disse o bispo de Tete, o missionário português D. Diamantino Antunes, numa mensagem enviada ao secretariado da Fundação AIS em Portugal.

A Ajuda à Igreja que Sofre salienta que a ameaça terrorista em Cabo Delgado “é muito preocupante”, a Igreja Católica tem sido “uma das vozes mais ativas na denúncia desta situação”, também para que a comunidade internacional não se esqueça destas populações que, desde outubro de 2017, “são vítimas dos grupos armados que reivindicam pertencer ao grupo jihadista Daesh”, o autoproclamado Estado Islâmico.

Em outubro, numa passagem por Portugal, D. Diamantino Antunes, bispo de Tete desde 2019, com 25 anos de vivência missionária em Moçambique, desafiou os responsáveis políticos a superar “interesses partidários” e alertou para crise persistente em Cabo Delgado, à entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, emitida no dia 20 desse mês.

A Fundação pontifícia AIS alerta para a violência terrorista “imparável no norte de Moçambique”, quando as atenções no país lusófono estão nas “manifestações de contestação ao resultado das eleições de 9 de outubro”.

O mais recente relatório da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre sobre liberdade religiosa, intitulado ‘Perseguidos e Esquecidos? Relatório sobre os Cristãos Oprimidos por causa da sua Fé [2022-24]’, publicado no dia 20 de novembro, identifica que, no início deste ano de 2024, se verificou “um recrudescimento dos ataques do autoproclamado Estado Islâmico em Moçambique”; “as redes sociais do EIM [Estado Islâmico de Moçambique] realçaram a dimensão religiosa” com a divulgação de imagens de igrejas destruídas pelas chamas, diversos símbolos cristãos “incluindo crucifixos”.

Desde 2017, acrescenta o secretariado português da AIS, os ataques armados já causaram mais de cinco mil mortos e mais também de 1 milhão de deslocados internos, em Moçambique.

CB

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Agência ECCLESIA

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