Igreja: «Vamos continuar a escuta», afirma D. Ildo Fortes, lembrando que «o Sínodo começou nas paróquias»

«Voltamos ao espírito conciliar», destaca bispo cabo-verdiano

Foto Ricardo Perna

Cidade do Vaticano, 03 nov 2023 (Ecclesia) – D. Ildo Fortes, representante das Conferências Episcopais do Senegal, Mauritânia, Cabo Verde e Guiné-Bissau na assembleia sinodal que decorre até 2024, considera que a primeira sessão dos trabalhos foi marcada por “uma grande liberdade de palavra”, transparência e respeito.

“Vamos continuar a escuta e é preciso também ter muito claro o seguinte: nós estamos a meio do Sínodo, esta foi a primeira sessão, agora há um tempo que é para maturar, para amadurecer, para refletir. Escutar agora aqueles que começaram por dizer qualquer coisa, o Sínodo começou nas paróquias. Agora também é bom que se oiça o que eles vão dizer”, disse o bispo da Diocese de Mindelo (Cabo Verde) à Agência ECCLESIA.

Entre os dias 4 e 29 de outubro, decorreu no Vaticano a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, que vai continuar, em 2024, por decisão do Papa Francisco.

Segundo D. Ildo Fortes, após a segunda sessão do Sínodo dos Bispos, sobre Sinodalidade, em outubro de 2024, os participantes devem “fornecer ao Santo Padre elementos mais concretos, que depois poderá traduzir como ele entender na Igreja”.

O representante das Conferências Episcopais do Senegal, Mauritânia, Cabo Verde e Guiné-Bissau considera que o Papa Francisco “deseja muito pôr a Igreja na ordem do dia”, uma Igreja que se renova, “voltando às suas origens, escutando o seu Mestre de novo”.

  1. Ildo Fortes equipara este Sínodo dos Bispos “à experiência do Concílio Vaticano II”, quando a Igreja olhou para si e para o mundo onde se encontrava, “tentando dar uma resposta”.

“Voltamos ao espírito conciliar, no fundo, de pôr em prática aquelas diretrizes, orientações, as intuições que se encontravam no Concílio: uma Igreja renovada, mais atualizada, uma Igreja fiel ao seu Mestre. Procura traduzir o Evangelho hoje, na linguagem que as pessoas entendam e seja uma Igreja que caminha com as pessoas”, desenvolveu.

O bispo da Diocese do Mindelo leva desta experiência “vários ganhos, alguns muito pessoais”, como “a grande experiência de caminhar junto, na verdadeira aceção da palavra”, além de “uma grande amizade”, de “quem gosta de estar juntos e uma amizade que nasce de Jesus Cristo”.

O entrevistado aponta ainda à dinâmica do Sínodo, “da escuta uns dos outros, de não caminhar com pressa, mas um trabalho que é de integrar a palavra do outro”.

“Não precisamos de estar à espera da próxima sessão do Sínodo, nem do futuro. Isso é uma coisa viva para pôr em prática hoje. De facto, ela resultou como muito positiva e muito eficaz”, prosseguiu.

Outro ponto positivo, para D. Ildo Fortes, foi o facto de esta assembleia ter começado com três dias de retiro espiritual, algo que foi “muito” salientado na avaliação final.

“Viemos de lados tão diferentes, de línguas diferentes, culturas diferentes. E aconteceu neste Sínodo aquilo que aconteceu na primeira hora com os discípulos de Jesus, sendo eles tão diferentes uns dos outros, mas em Cristo encontramos uma harmonia e uma comunhão enorme. E este sínodo, para mim, está muito marcado pela experiência de comunhão na diversidade e uma fraternidade fora de série. Foi o que eu experimentei”, concluiu.

OC/CB

 

Foto: Ricardo Perna

D. Ildo Fortes destacou ainda a oportunidade “marcante” de estar com pessoas que não é habitual ou só conhece dos textos e livros que escrevem, como o bispo italiano D. Bruno Forte, ou o padre Timothy Radcliffe, religioso dominicano que orientou o retiro.

“Foi uma espécie de encontro com muitas personalidades, com muita gente que, às vezes, tínhamos tão distantes mas quando nos sentamos é uma coisa impressionante. Há dias estava numa mesa onde estavam o cardeal (Óscar) Maradiaga (Honduras) e o cardeal (Juan) Omella de Barcelona”, acrescentou, partilhando que “alguns grupos eram muito descontraídos”, como o momento em que um dos bispos ofereceu “o gelado a todos” do seu grupo, no intervalo, e ainda convidaram o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo.

“Acho que a Igreja é feita de coisas simples. Nós somos todos iguais, todos irmãos; eu não sou menos bispo por estar no meio das pessoas e por ir tomar um café com alguém, aliás, eu aprecio imenso”, disse o bispo de Mindelo.

A diocese cabo-verdiana está a celebrar 20 anos, foi criada pelo Papa João Paulo II, e a experiência do bispo é a de ter começado “sem nenhuma estrutura diocesana” – sem Conselho Pastoral, sem Conselho Económico, sem Conselho Presbiteral, sem vigário-geral, entretanto nomeado -, sem ter deixado de cumprir a sua missão.

“A primeira coisa que nós fizemos foi chamar os fiéis para ver o que fazer. Ou seja, a dimensão sinodal em muitas partes do mundo já vem acontecendo e com muitos bons resultados, com uma experiência muito feliz, e não tira nada àquilo que é a autoridade dos pastores, a autoridade do bispo. Eu estou a constituir a Igreja, estou a constituir estes órgãos que são necessários, e o meu receio até é que a estrutura possa matar o espírito de espontaneidade, de contar com todos como nós fizemos de agora”, partilhou D. Ildo Fortes.

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Agência ECCLESIA

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