Igreja/Abusos: «Não podemos deixar de repudiar, lamentar e pedir perdão a quem foi objeto de cada um destes repugnantes atos» – D. José Ornelas

Católicos assumem «a revolta e a humilhação pelos abusos sexuais», diz bispo de Leiria-Fátima

Foto: Diocese de Leiria-Fátima/Paulo Adriano

Leiria, 23 fev 2023 (Ecclesia) – O bispo de Leiria-Fátima afirma que, em “ambiente de conversão quaresmal”, os católicos assumem “a revolta e a humilhação” pelos abusos sexuais na Igreja em Portugal, pedindo desculpa às vítimas.

“Sem entrar em polémicas sobre números — qualquer caso é uma enormidade injusta e dramática na vida de cada pessoa que foi vítima —, não podemos deixar de repudiar, lamentar e pedir perdão a quem foi objeto de cada um destes repugnantes atos”, escreve D. José Ornelas, na mensagem para a Quaresma 2023, enviada hoje à Agência ECCLESIA.

O também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) explica que os atos de “repudiar e pedir perdão” só têm sentido se significarem igualmente “uma atitude ativa de não-resignação e de determinada e concreta atitude de ir ao encontro” que foi “injustamente tratado” e corajosamente se ergueu para denunciar, “colaborando na reconstrução das suas vidas”.

Deixar-se converter significa igualmente fazer justiça a esse sofrimento, tomando todas as medidas para evitar que se repitam e, na medida do possível, tratar igualmente daqueles que foram autores desses atos”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022, segundo o relatório final que apresentou, a 13 de fevereiro, em Lisboa.

Na mensagem para a Quaresma 2023, D. José Ornelas afirma que este é um tema que “não pode fugir do caminho quaresmal”, e é em “ambiente de conversão” que assumem “a revolta e a humilhação” pelos abusos sexuais que se verificaram na Igreja em Portugal: “Tomar a sério este drama será um modo de purificar e transformar positivamente a Igreja”.

Foto: Diocese de Leiria-Fátima/Paulo Adriano

A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), que teve início esta quarta-feira, com a celebração de imposição das Cinzas, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência; serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (este ano a 9 de abril).

Segundo D. José Ornelas, reconhecer o mal, que existe em cada um e à sua volta, “à luz do olhar verdadeiro e misericordioso de Deus”, é o início da conversão quaresmal que “forja pessoas livres (livres daquilo que é só imediato e autorreferencial), pessoas que constroem solidamente e solidariamente a própria felicidade e um futuro luminoso”.

O bispo diocesano indica que outra proposta para a Quaresma “é a conversão para a transformação sinodal da Igreja”, um caminho que pretende “renovar cada paróquia, cada vigararia e diocese e a Igreja em todo o mundo”, e uma “expressão da sinodalidade”, que faz parte desta conversão, é a edição internacional da Jornada Mundial da Juventude em Portugal, de 1 a 6 de agosto, em Lisboa.

A Diocese de Leiria-Fátima vai destinar renúncia quaresmal “a minorar o sofrimento” das populações devastadas pela guerra na Ucrânia, que faz um ano esta sexta-feira (24 de fevereiro), e pelos “desastres naturais” na Turquia e na Síria”, a 6 de fevereiro.

CB/OC

 

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