Igreja deve assumir papel interventivo

D. Manuel Martins, condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, analisa situação portuguesa D. Manuel Martins, Bispo emérito de Setúbal considera que a condecoração da Grã-Cruz da Ordem de Cristo prestigia a Igreja em geral, e de forma especial, a “minha querida Igreja de Setúbal, pois muitos sadinos sentiram-se também condecorados”, sublinha em declarações à Agência ECCLESIA. Um dia após a cerimónia que assinalava o Dia de Portugal, onde o Bispo emérito de Setúbal foi agraciado pelo Presidente da República, D. Manuel Martins sublinha não dever esperar receber felicitações ou prémios das autoridades do mundo. A sua recompensa “se alguma merecer, deve ser de Jesus Cristo”, mas “fiquei contente”, acrescenta. “O mundo andas às avessas”, considera, e a Igreja tem uma importância fundamental “mas não tem sabido entender este mundo e acompanhá-lo”. A Igreja deve tomar consciência que “deve vir para a praça pública, porque mesmo que lhe criem dificuldades ou lhe tirem o seu lugar, como acontece, deve assumir corajosamente e sem medo o seu papel”. A Igreja descura e cala os valores humanos, “e a situação do trabalho em Portugal é disso exemplo”. A Igreja tem de pronunciar-se “mas de forma a ser ouvida, não é com papeis ou documentos” de forma a que “o desenvolvimento seja acompanhado de solidariedade e manifeste a preocupação de considerar o homem como elemento responsável na construção da história”. A situação actual do país “merece uma atenção tão grande que nos devíamos pronunciar de uma forma mais visível”. O trabalho, a economia “assente numa filosofia neo liberal”, a flexisegurança “considera cada vez menos o homem”, conferindo-lhe uma posição “exclusiva de produtor” e acrescente ser “repugnante ouvir falar em flexisegurança e na mobilidade, quando sabemos que o essencial não é garantido”. As questões da vida são outra preocupação para o Bispo emérito. Em contexto da lei do aborto, D. Manuel Martins ironiza a importância “vital de uma lei, quando 80% dos médicos vão invocar objecção de consciência”, destaca. A cultura da morte toma conta da sociedade “mesmo quando uns quantos se reúnem para apregoar o valor da vida e para discutir questões ambientais”, evidencia, referindo-se ao encontro do G8. Ainda tem muitas coisas para dizer, “e não me refuto, aproveito as oportunidades que tenho”, no altar, por exemplo que considera “muito exigente”. É ali que “prego a grandeza e dignidade do homem”, tudo isto em nome da sua fé, apesar da carga política que lhe conferem. “Mas a Igreja é essencialmente política na medida em que prega os grandes valores humanos e a dignidade do homem”, porque considera que a dignidade humana “se situa numa posição política que não tem nada a ver com a forma como actualmente é encarada”. A política “que é tão nobre tornou-se em algo evitável”. Porque a verdadeira está “só ao serviço do homem, coisa que agora não acontece”, pois os direitos e valores estão “ausentes”, afirma. D. Manuel Martins recorda que esta condecoração lhe foi entregue “enquanto Bispo de Setúbal”, tendo em conta a sua actuação, que sempre foi pautada pela exigência dos valores do Evangelho, mas acabei por desgostar profundamente muita gente do governo”. O prelado recorda o seu percurso enquanto professor de seminário, pároco de Cedofeita, “modesto e mal conseguido vigário geral da diocese”. Por isso afirma que a forma como o recordam “é enquanto Bispo de Setúbal”.

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Agência ECCLESIA

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