V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano deve «renovar a acção»

Última entrevista de D. Luis Robles Díaz Dias antes de falecer, D. Luis Robles Díaz, Vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, concedeu uma entrevista à Agência Fides. Um testemunho onde a viagem pastoral que Bento XVI fará ao Brasil, em Maio, por ocasião da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano (CELAM) e os desafios da Igreja são reflectidos. A cerca de um mês da inauguração da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, que frutos a Igreja latino-americana pode esperar deste grande encontro? Creio que o fruto principal desta V Conferência Geral deva ser uma renovação intensa na prática pastoral da Igreja. Seria muito útil que a reflexão fosse orientada sobretudo à pastoral, porque é disso que a Igreja neste continente necessita hoje. O que fazer para que o Evangelho chegue a mais pessoas? O que fazer para difundir uma cultura da vida? O que fazer para reforçar as famílias e transmitir-lhes o modelo de família cristã? Creio que essas e outras perguntas devam encontrar respostas concretas na reflexão e no diálogo que nascerá entre os Pastores dos diferentes países participantes, com a ajuda dos leigos e dos peritos convidados. A América Latina, apesar da diversidade cultural que tem e sem diminuir a identidade própria de cada povo, forma uma grande unidade; somos um só povo, com uma cultura marcada e uma identidade católica. Isso deve ser reconhecido para dar respostas que, aprofundando as várias problemáticas, sejam eficazes. Devemos anunciar o Evangelho e realizar a missão da Igreja com eficácia. Na sua opinião, esta eficácia deve basear-se em quê? Creio que seja necessário saber qual é o principal objectivo e usar todos os meios necessários naquela única direcção. O nosso objectivo é anunciar Cristo e ajudar as pessoas – inclusive os católicos – a converterem-se ao Evangelho. Mas devemos transmitir uma esperança que não seja baseada em objectivos puramente humanos: objectivos sociais, económicos e etc… Esta esperança deve ser baseada na pessoa concreta de Cristo. Apesar de parecer uma verdade evidente, não é errado recordar que o Pastor deve transmitir unicamente o modelo de Cristo. É evidente que hoje o trabalho da Igreja, sobretudo nos países com graves carências económicas, sociais e políticas – como é o caso de muitos países da América Latina – deve chegar a todos os âmbitos da vida humana e apresentar respostas concretas, mas qual deve ser a natureza dessas respostas? Deve basear-se em quê? Quando a missão da Igreja se confunde com as metas terrenas, ou seja, com o campo económico, político e social, então o Evangelho torna-se ineficaz. Os homens tornam-se ineficazes! Que características particulares deve ter esta V Conferência em relação às precedentes Conferências gerais? Para responder a esta pergunta prefiro partir do lado oposto: aquilo que têm em comum as diversas Conferências. Pode-se ver uma clara continuidade, de Rio a Santo Domingo, entre essas Reuniões Episcopais. Todas são uma resposta ao estímulo suscitado pelo Espírito no Concílio Vaticano II. Há uma permanente renovação na Igreja, e por este motivo, sucessivamente, nasceram essas grandes assembleias, pela necessidade de responder a uma situação concreta e actual; mas é um fenómeno de renovação em continuidade com as experiências precedentes e, particularmente, com os ensinamentos conciliares. Creio, sem dúvida – respondendo à sua pergunta – que cada Conferência Geral tenha nascido em contextos históricos particulares e diferentes. Nesta continuidade, cada uma respondeu, a seu modo, a uma situação concreta da Igreja em cada tempo. A riqueza acumulada é imensa! Não creio que o momento actual da América Latina necessite de grandes propostas a nível doutrinal. O Magistério nos últimos 50 anos produziu uma grande quantidade de material que é fruto de reflexões profundas e de uma aproximação aguda à realidade actual da Igreja. Basta olhar para o Magistério de João Paulo II nas suas viagens apostólicas a essas terras. Somente isso, unido aos documentos das precedentes Conferências Gerais, apresenta uma quantidade infinita de princípios a aplicar. Por isso, penso que esta V Conferência deva fazer nascer sobretudo uma renovação na acção, mas não centralizada no político, no aspecto económico ou social, mas centralizada em Cristo, no Evangelho, nos valores cristãos, na piedade popular e mariana, etc… No contexto da América Latina e no trabalho realizado pela Igreja, quais são, segundo seu ponto de vista, os desafios mais urgentes a enfrentar? Creio que os mais importantes já tenham sido ditos na resposta à pergunta anterior. Mas acrescentaria um outro, que considero fundamental: o trabalho pelas vocações. Imaginemos Cristo sem discípulos, sem seguidores; imaginemos Jesus sem apóstolos, não parece absurdo? Toda a pessoa de Jesus já era um convite a segui-Lo. Ele chamou os seus discípulos e continua a fazê-lo hoje por meio de cada cristão, e de modo especial por meio de seus Pastores. A Igreja não se poderia sustentar sem um permanente apostolado vocacional. O próprio Senhor nos impulsiona a “pedir ao patrão para enviar operários”. Mas além de pedir, é preciso ir buscar com meios concretos. Nos últimos anos, tentaram-se muitas estradas para aumentar a resposta ao chamado de Deus, com bons resultados em alguns casos e menos bons noutros. Com muita frequência, perdeu-se a confiança na eficácia do Evangelho, no chamado de Cristo, assim como na defesa aberta e sincera daquilo que a Igreja realmente quer transmitir: que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Às vezes, procuram-se caminhos indirectos que não dão bons resultados ou tenta-se camuflar a mensagem quando o que é preciso é apresentá-la assim como é. Se o Evangelho não é atraente, então como podemos convencer? Por outro lado, creio que se possa medir o valor real dos meios propostos à evangelização nos frutos vocacionais que apresentam. Por isso, considero que seria uma grande contribuição desta V Conferência promover uma renovação na pastoral vocacional, que entre outras coisas é muito próxima à pastoral familiar, de modo a suscitar nos nossos países uma intensa campanha para promover a vida sacerdotal, a vida consagrada, com modelos exemplares. Mas que seja clara e directa, que não procure filtrar-se através de canais que o mundo oferece, mas que tenha o próprio canal, representado pelo testemunho dos Pastores.

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