Santíssima Trindade… o maior mistério da fé

Entrevista ao Presidente da Comissão Científica do Congresso sobre o Mistério Trinitário de Deus. Entre as iniciativas que visam o estudo teológico da mensagem de Fátima inseridas no programa dos 90 Anos, ocupa lugar de relevo o Congresso Internacional sobre o Mistério Trinitário de Deus, de 9 a 12 de Maio. O Congresso, tomando como epígrafe a invocação inicial da oração do Anjo, “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo…”, pretende mostrar, na primeira parte (Revelação e Doxologia), como o mistério fundamental da fé cristã se revela na Sagrada Escritura e de que modo estrutura a oração litúrgica da Igreja (lex orandi, lex credendi). Na segunda parte (Crer para entender), acompanha a história desta doutrina, marcada pelo combate à falsa gnose (o que se reveste de grande actualidade): na sua reflexão se empenharam, até aos dias de hoje, os grandes vultos da Teologia, no Oriente e no Ocidente, cabendo ao Magistério traçar o caminho de fidelidade à revelação de Jesus Cristo. Na terceira parte (Fonte de amor, luz e vida), procura colher da sua meditação elementos para uma renovada compreensão do Homem, da Sociedade e da Igreja, bem como atender à piedade dos simples, pelo conhecimento das devoções populares e revelações particulares, no contexto do sensus fidei da comunidade eclesial. Em entrevista à Sala de Imprensa do Santuário, o Presidente da Comissão Científica do Congresso, Henrique Noronha Galvão, sacerdote e docente em Lisboa da Faculdade de Teologia na disciplina acerca do Mistério Trinitário de Deus, fala-nos sobre a iniciativa: Santíssima Trindade… o maior mistério da nossa fé – Como recebeu o convite do Santuário, de integrar, e presidir, à comissão científica de um congresso integrado no programa celebrativo dos 90 anos das Aparições? Foi o Sr. Padre Dr. Armindo Janeiro que me convidou a colaborar na organização do congresso, tendo em conta certamente que tenho leccionado na Faculdade de Teologia, em Lisboa, a disciplina acerca do Mistério Trinitário de Deus. – O que é a Santíssima Trindade? Está-me a perguntar o que é o maior mistério da nossa fé … Ele resulta de Jesus Cristo se ter revelado como Filho de Deus, numa comunhão total e única com o Deus a quem chamava Pai e mesmo, em aramaico, Abba (que significa Papá), e com o Espírito Santo que procede simultaneamente do Pai e do Filho. Esta comunhão de Amor é de tal ordem que significa uma única identidade divina em que subsistem o Pai e o Filho e o Espírito Santo. – É preciso “crer para entender” essa identidade trinitária de Deus? Sem dúvida. Trata-se aqui de algo que corresponde ao mais íntimo mistério pessoal de Deus e que só por confidência do próprio Deus, isto é, por revelação nós podemos conhecer. – “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo….”. Havendo unidade das três Pessoas da Santíssima Trindade, como explica que alguns católicos se sintam mais apegados, na fé, ao Espírito Santo ou a Cristo, ou ao Senhor, como se não fossem a mesma realidade? Até mesmo para os sacerdotes a questão é por vezes complicada… Não é fácil a apreensão de tão profundo mistério da nossa fé. Para exprimir essa dificuldade St. Agostinho cunhou a expressão “douta ignorância” que foi retomada por autores como S. Boaventura ou o Mestre Eckhart. S. Tomás disse o mesmo. Os místicos falam da “noite da inteligência”. Trata-se de um mistério que só numa atitude de grande humildade, pela meditação na Palavra de Deus e na oração pode ser apreendido e vivido. Sempre que queremos sujeitar Deus aos nossos critérios, à nossa sensibilidade ou, mesmo, à nossa ideologia, então já não acreditamos no Deus que se revela mas num ídolo que nós próprios criamos. – Como surge o mistério da Santíssima Trindade nas Aparições de Fátima? Sobre isso falará no Congresso, com a sua grande competência, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima D. António Marto. Nas Aparições de Fátima é sobretudo a Oração do Anjo que nos coloca perante esse mistério. Não foi por acaso que escolhemos para epígrafe do Congresso o início dessa oração. – A Oração do Anjo de Portugal à Santíssima Trindade indica-nos o quê? Uma entrega total a Deus pedida aos crentes para eles próprios e, depois, para todos os homens? Isso certamente. Mas gostaria, igualmente, de referir todo o contexto das Aparições de Fátima enquanto manifestação do Amor Misericordioso de Deus, como justamente sublinha o programa da celebração dos seus 90 anos. Deus é Amor, disse S. João e o Papa Bento XVI nos recordou na sua primeira encíclica. E esse Amor que é Deus exprime-se na sua comunhão trinitária. Há um outro aspecto importante nas Aparições e que é também central na Oração do Anjo, o da conversão. Ao longo da história da Igreja, sempre a confissão dos crentes no Deus Trindade esteve ligada à sua disposição para a conversão. – Do que falará na sua conferência neste congresso, que intitulou: “O Símbolo dos Apóstolos, credo de fé trinitária. Testemunho na liturgia baptismal antiga”? É precisamente na liturgia baptismal, a que esteve ligada a origem do Símbolo dos Apóstolos, que encontramos a associação entre a fé no Deus Trindade e a decisão do neófito se converter. Uma associação que, no presente ritual do Baptismo, continua clara, quer quando é afirmada, no caso dos adultos, por aquele que vai ser baptizado quer, no caso das crianças, pelos seus pais e padrinhos. Por isso é tão importante falar dessa origem, embora esteja envolta nalgumas incertezas a que farei também referência na minha comunicação. De qualquer modo, torna-se claro como, desde o início da Igreja, foi à volta do Mistério Trinitário de Deus que se exprimiu e confessou a fé cristã, no que tem de doutrina e de incidências práticas. – Que expectativas tem para este Congresso? Conseguimos a colaboração de grandes especialistas, portugueses e estrangeiros (provenientes de seis países), entre os quais seis bispos, que garantem um alto nível de reflexão sobre tão grande mistério da nossa fé. E é igualmente relevante que, no momento em que se ultima no Santuário de Fátima a construção da igreja dedicada à Santíssima Trindade, haja uma consciência clara e fundamentada do lugar central e decisivo do Mistério Trinitário de Deus na vida de todos os cristãos, tal como nos foi recordado pelas Aparições. Há também nelas um apelo a toda a humanidade para que se abra ao horizonte de esperança que, desta forma, o Amor Misericordioso de Deus representa para todos os que se convertem. Se o Congresso tornar mais luminosa essa esperança, já valeu a pena.

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