Caríssimos irmãos e irmãs!
A Vigília Pascal constitui o ponto mais alta da vida dos cristãos, porque nela celebramos Jesus Cristo ressuscitado e glorioso, que venceu o pecado e a morte em que jazíamos e nos fez passar à esperança da vida nova.
Ela é uma celebração da fé no Deus Criador, como ouvimos na leitura do Livro do Génesis, a celebração da fé no Deus que liberta o seu povo, como ouvimos na narração do Êxodo, a celebração da fé da compaixão de Deus que perdoa as nossas culpas, como profetizou Isaías, a celebração da fé no Deus que sempre renova a sua aliança de amor com o seu povo, de acordo com o texto de Ezequiel. Toda a história antiga concorre para o grande anúncio do sepulcro vazio, sinal da ressurreição de Cristo, a Boa Nova do Evangelho. Da paixão e morte nasceu para nós o batismo como fonte da vida nova que somos convidados a viver para Deus.
Esta é a noite da solene profissão de fé no batismo para a remissão dos pecados, na eucaristia como alimento para a nossa peregrinação terrena e na iluminação que nos chega por meio da luz de Cristo, a única luz do mundo. Diz-nos que quem celebra esta vigília na fé, manifesta a sua decisão pessoal de estar em permanente conversão e sem ceder à tentação de ir por outros caminhos que não os de Deus.
Ao acompanharmos os nossos irmãos que hoje celebram o batismo, a confirmação e a Eucaristia, os três sacramentos da iniciação cristã, damos graças a Deus por nós e por eles. Por nós, porque obtivemos a graça de ser sepultados com Cristo na sua morte para ressurgirmos com Ele para a vida; por eles, porque foram iluminados pelo Espírito Santo e chamados a responder ao convite para fazerem parte desta grande família, a Igreja de Deus, a comunidade dos que têm por vocação ser santos.
Eles e nós temos diante a oportunidade de continuar a descobrir a alegria de conhecer a Deus, de compreender como somos felizes por Cristo nos ter alcançado e ter entrado na nossa vida, de sentir dia a pós dia a força do amor de Deus a ajudar-nos a nossa cruz com esperança.
Eles e nós temos diante a oportunidade de pertencer a esta Igreja, comunidade de irmãos que partilham a fé e se amparam com a oração, com a vida fraterna, com o anúncio da Palavra do Evangelho e com a solidariedade espiritual, própria da comunhão dos santos.
Caríssimos irmãos e irmãs! A noite da Vigília Pascal leva-nos a aprofundar na mente, no coração e na vida a nossa fé em Deus, Santíssima Trindade, em quem vivemos, nos movemos e existimos como cristãos. Esta é a fé que nos distingue radicalmente de todos os outros povos que acreditam em Deus.
A fé é um caminho uma vez iniciado e nunca concluído, pois é um processo de acreditar e amar a Deus que conhecemos pela revelação divina e ao qual aderimos pelo assentimento da nossa vontade, em resposta à graça recebida.
Conhecemos os meios adequados para a contínua renovação da fé que a Igreja nos oferece: a celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, a oração pessoal e comunitária, a leitura e meditação da Palavra de Deus, a caridade cristã e a vida em comunidade que anuncia o Evangelho.
Sem o alimento quotidiano, que inclui também o silêncio, a meditação, a reflexão e o estudo, a fé não resiste. Ela alimenta-se de um amor pessoal a Deus, que brota da resposta às sementes do Espírito depositadas em cada um de nós.
A Vigília Pascal leva-nos também a aprofundar a fé na Igreja. Diante de uma comunidade cristã santa e pecadora, é difícil para muitos acreditar que é muito mais do que organização humana e social. É, por isso, muito urgente que entendamos a Igreja como Corpo Místico de Cristo, templo de Deus e casa habitada pelo Espírito Santo.
Muitas pessoas, mesmo cristãs, dizem acreditar em Deus, mas têm muita dificuldade de acreditar na Igreja. Somente quando nos consideramos seus membros e estamos dispostos a dar a vida por ela, e acolhemos o dom do Espírito Santo, temos a força necessária para dizer no credo: Creio na Igreja, uma, santa, católica e apostólica.
Com humildade, havemos de alimentar a fé na Igreja Santa, porque Deus é Santo, mas também pecadora, porque nós somos pecadores, até chegarmos a sentir que é na Igreja e como Igreja que nos é dado acreditar e professar a fé em Deus Santíssima Trindade.
A Vigília Pascal oferece-nos ainda a possibilidade de fazermos um caminho sério na vida cristã. Homens novos, nascidos no batismo e alimentados na Eucaristia, somos chamados a uma contínua incarnação da fé na totalidade da nossa vida.
Não tem sentido falarmos de cristãos praticantes e não praticantes. Sendo cristãos, assumimos fazer parte da Igreja e celebrar nela os louvores de Deus; assumimos igualmente a alegria de fazermos de Cristo e do seu Evangelho a referência da nossa vida em todos os seus detalhes.
Ser cristão por tradição ou por nascermos num meio cultural cristão tem o seu valor, pois faz naturalmente parte de nós e é o húmus em que nascemos e crescemos para a vida; no entanto, só por si, essa condição não transforma a vida, como queremos que a fé nos transforme plenamente. Muito desejamos realizar em nós as palavras de Paulo, que definem o que é a vida cristã: “já não sou eu que vive, é Cristo que vive em mim”.
Caríssimos irmãos, catecúmenos! Convido-vos a acolher esta vida nova que Cristo Ressuscitado vos oferece no batismo que ides receber.
E convido-vos a vós, caríssimos cristãos que já celebrastes o batismo há muito ou há pouco tempo, a renovar alegremente a fé em Deus, que nos renova por meio da fé que, vamos solenemente professar.
Coimbra, 16 de abril de 2022
D. Virgílio do Nascimento Antunes, Bispo de Coimbra